A POMBA I
O evangelho de Mateus registra que, quando João Batista batizou Jesus, o céu abriu e o Espírito desceu como pomba sobre ele (Mt. 3:16). Lucas é o único evangelista que registrou ser o Espírito Santo que desceu em forma corpórea (Lc. 3:22). Todos entendem que a pomba é figura do Espírito Santo. Será assim? Vejamos: Deveria haver no Velho Testamento alguns sinais indicativos de que pomba é sinal do Espírito Santo. Não podemos esquecer que o Espírito Santo é a força realizadora de Deus, é Ele que opera o novo nascimento; é Ele que opera a regeneração dos perdidos (I Co. 6:10-11); é Ele que santifica os convertidos a Cristo (II Ts. 2:13); é Ele que fortalece os cristãos para a luta (II Tm. 1:7); é Ele que forma o corpo da Igreja (I Cr. 12:12-13); é Ele que confere dons divinos aos santos (I Cr. 12:7-11); é Ele que mortifica as concupiscências carnais do ser humano (Rm. 8:13-14), e muito mais. No Velho Testamento, a pomba nunca foi figura do Espírito Santo. Vejamos:
1. A pomba é símbolo dos que, em perigo, em temor e tremor, querem fugir para ter descanso e paz (Sl. 55:5-6).
2. A pomba é figura dos oprimidos e desenganados. Ezequias, rei de Israel, foi acometido de uma enfermidade mortal. Jeová falou: “Põe em ordem a tua casa, pois morrerás”. Então Ezequias caiu em prantos (Is. 38:1-2). Na sua oração, desenganado e em angústia assim falou: “Como o grou, ou a andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a pomba; alçava meus olhos ao alto: ó Jeová, ando oprimido! Fica por meu fiador” (Is. 38:14).
3. A pomba é figura dos vencidos, destruídos, saqueados, que desmaiam de pavor. Quando Nínive foi destruída, lemos o seguinte: “Nínive desde que existe tem sido como um tanque de águas; elas, porém, fogem agora. Parai, parai, clamar-se-á; mas ninguém olhará para trás. Saqueai a prata, saqueai o ouro, porque não tem termo o provimento; abastança há de todo o gênero de móveis apetecíveis. Vazia, e esgotada e devastada ficará; e derrete-se o coração, e tremem os joelhos, e em todos os lombos há dor, e os rostos de todos eles empalidecem” (Na. 2:8-10). Como se sentiram os ninivitas com esta desgraça? “Huzabe está descoberta; será levada cativa, e as suas servas a acompanharão, gemendo como pombas, batendo em seus peitos” (Na. 2:7).
4. Os moabitas, descendentes de Ló, sobrinho de Abraão, temeram muito diante de Israel no deserto, e ficaram angustiados (Nm. 22:1-3). E Balaque, seu rei, quis alugar Balaão para amaldiçoar Israel (Nm. 22:6, 17). Jeová se encheu de ira vingativa contra os moabitas, e pronunciou a sentença: “Nenhum moabita jamais entrará na congregação de Jeová eternamente” (Dt. 23:3-5). Mil anos mais tarde, Jeová destrói os maobitas com uma eterna vingança, pelo ódio que jamais se apaga. São tomadas as cidades, ocupadas as fortalezas. Moabe destruída como povo, porque se engrandeceu contra Jeová. “Temor, e cova, e laço, vem sobre Moabe, diz Jeová. O que fugir do temor cairá na cova, e o que sair da cova, ficará preso no laço. É o ano da minha visitação, diz Jeová” (Jr. 48:41-44). E o coração dos moabitas? Serão como as pombas que se aninham ‘na boca das cavernas’ (Jr. 48:28). No hebraico está escrito ‘na boca do abismo’. O símbolo da pomba está longe de ser figura do Espírito Santo, mas no Velho Testamento é sempre figura dos atribulados, apavorados, vencidos, liquidados, aborrecidos por Jeová, enfim, dos apavorados e condenados. Mas continuemos:
5. A pomba era usada pelos pobres que, não podendo oferecer touros e bezerros, recorriam às pombas com permissão de Jeová (Lv. 5:6-7). Era também usada nos sacrifícios de quem tinha doenças venéreas(Lv. 15:14-15). Na carta aos Hebreus lemos que o sangue dos touros e dos bodes não tira pecados de ninguém (Hb. 10:4). Logo, o sacrifício das pombas, estabelecido por Jeová, na lei, não tinha valor nenhum, pois está escrito: “Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei). Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez. (Hb. 10:8-10). Ora, Jeová estabeleceu os sacrifícios da lei para perdoar os pecados (Lv. 4:32-35). No Novo Testamento lemos que Deus, o Pai, não queria tais sacrifícios, pois não lhe eram agradáveis, isto é, o que Jeová fez não estava nos planos do Pai, e a pomba fez parte desses sacrifícios inúteis (Hb. 7:18-19). A pomba que desceu sobre Jesus no batismo de João, só pode prefigurar a velhice da letra e do jugo de Jeová (Rm. 7:6; II Cr. 12:5-8). É por isso que a pomba é figura dos enganados. O profeta Oséias disse: “PORQUE EFRAIM É COMO UMA POMBA ENGANADA, SEM ENTENDIMENTO” (Os. 7:11). No Velho Testamento, a pomba é figura dos que facilmente são enganados, e aparece sobre Jesus como Espírito Santo? Mas o Espírito Santo, no Novo Testamento, é o que revela a sabedoria de Deus, oculta em mistérios (I Co. 2:7- 8). As profundezas de Deus, isto é, as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, preparadas para os que amam a Deus, são reveladas pelo Espírito Santo (I Co. 2:9-10). A pomba jamais poderia ser figura do Espírito Santo do Pai, mas sim dos enganados. De mais a mais, o Espírito Santo é a verdade (I Jo. 5:6). E o próprio Jesus declara: “Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar” (Jo. 16:13-14).Definitivamente as pombas do Velho Testamento, não apontam para o Espírito Santo do Novo Testamento.
6. No capítulo 60 de Isaías, é proclamada a restituição da glória de Israel e Jerusalém, e começa assim:“Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória de Jeová vai nascendo sobre ti” (Is. 60:1). “As nações caminharão à tua luz, e os reis ao resplendor que te nasceu. Levanta em redor os teus olhos, e vê; todos estes já se ajuntaram, e vêem a ti; teus filhos virão de longe, e tuas filhas se criarão a teu lado” (Is.60:3-4). E, cumprindo-se a promessa da restauração de Israel, feita por Jeová, e sonhada pelos que estavam espalhados pelas nações, assim descreve o profeta: “QUEM SÃO ESTES QUE VEM VOANDO COMO NÚVENS E COMO POMBAS ÀS SUAS JANELAS?” (Is. 60:8). Está explicado o mistério: O Espírito Santo de Jeová desceu sobre Jesus em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia:“Tu és meu filho, hoje te gerei” (Lc. 3:21-22); este texto está no grego mas foi tirado pelos teólogos. Foi gerado em carne, pelo Espírito Santo de Jeová, o Messias, que iria restaurar o trono de Davi, o reino de Israel, e também a glória de Jerusalém (Bíblia de Jerusalém, com explicação no rodapé). A restauração de Israel em glória ainda não aconteceu. O Espírito Santo em forma corpórea ainda não se cumpriu, e o batismo de João não se cumpriu, pois Jesus renunciou ao trono de Davi (Jo. 18:36). Não se cumpriu porque o reino de Israel ainda não foi restaurado, até o dia de hoje. O batismo de Jeová apontava para o reino de Israel, isto é, a pomba.
O batismo de João nada tem a ver com o batismo de Jesus como lemos em Atos 19:1-6. O Cristo mencionado neste batismo é o Messias anunciado por Jeová no Salmo 2:7-9. A unção com Espírito Santo e com virtude feita pelo Pai sobre Jesus, aconteceu depois do batismo de João, e o Pai falou: “Tu és meu filho, hoje te gerei”, depois da ressurreição física de Jesus (At. 13:30-33). Foram dois momentos: Jeová declarou três anos antes da morte na cruz, porque predestinou Cristo para restaurar Israel na carne; o Pai declarou três anos mais tarde, após a ressurreição, não para restaurar Israel, mas para salvar a todos os homens, e levá-los para o reino dos céus (I Pd. 1:3-4). E em Atos 10:37-38, está escrito que o Pai ungiu Jesus com Espírito Santo e com virtude, depois do batismo de João. E o Espírito Santo do Pai se manifesta como línguas de fogo, e não como pomba (At. 2:2-4). O Pai ungiu Jesus depois do batismo de João. E no batismo de João não houve manifestação do Espírito Santo do Pai (At. 19:1-6).
Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira