AS DUAS CRIAÇÕES
Em Gênesis, capítulo um, verso um, está escrito: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Agostinho, grande pregador e intérprete da Bíblia, no seu livro ‘GÊNESIS, LETRA POR LETRA’, declarou o seguinte: ‘Por céus entendam-se as coisas espirituais, e por terra entendam-se as materiais.’ Quando falamos de duas criações, ninguém pense que as espirituais são criadas junto com as materiais, pois são criações diferentes. A criação material contem o universo, as nebulosas, as galáxias, os planetas, as estrelas, os cometas, etc. (Gn.1:14 a 19). A criação espiritual não se compõe de matéria, pois é uma criação espiritual. O deus do Velho Testamento, é o dono da criação material, por isso declara a Bíblia:“De Jeová é a terra e a sua plenitude; o mundo e aqueles que nele habitam” (Sl.24:1; Is.42:5). Jeová também come carne e bebe leite. Ele apareceu a Abraão acompanhado de mais dois anjos. Abraão chamou Sara e mandou fazer um bolo, assar uma vitela, preparou manteiga, e comeu com Jeová (Gn. 18:1-8).
A criação espiritual começou em Jesus Cristo. No livro de Apocalipse lemos: “E Adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap. 13:8). Se o mundo foi fundado quando Jesus morreu na cruz, não foi fundado no tempo de Adão, ou antes. Por isso mesmo, o evangelista Lucas declarou: “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus” (Lc.16:16). A criação espiritual começou quatro mil anos depois do primeiro Adão. Jesus é portanto o princípio da nova criação, isto é, da criação espiritual; e a Bíblia o chama de último Adão. Ora, a palavra Adão, vem do hebraico Adamá (terra), pois foi feito do pó da terra (Gn. 2:7; 3:19).
Jesus é o último Adão, porque é o último homem formado do pó da terra. João declarou: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo. 1:14). E Paulo diz: “Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em Espírito vivificante” (I Co. 15:45). Jesus nascido em carne, é o Jesus feito do pó, e sujeito a todas as fraquezas e tentações próprias do primeiro Adão e sua descendência (Hb. 4:15). Cremos então que o Verbo se fez carne no batismo de Jesus, pois o Verbo é Deus (Jo. 1:1); e Deus não pode ser tentado (Tg. 1:13). Jesus, nascido em carne, foi tentado trinta anos na carne, e ao ser batizado, Deus, o Pai falou, dizendo: “Tu és meu Filho, hoje te gerei” (Lc. 3:21-2 – Bíblia de Jerusalém).
Quando Jesus foi tentado, a tentação vinha da carne, isto é, de dentro, pois foi tentado como nós. Depois do batismo foi tentado por Satanás, mas não foi tentado por dentro. Tiago explica: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg. 1:14-15).
Vamos comparar as duas criações para vermos se são iguais ou diferentes:
1) Na primeira criação, as trevas existiam primeiro: “A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo” (Gn. 1:2). Na segunda criação, a luz existia primeiro: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez. NELE ESTAVA A VIDA, E A VIDA ERA A LUZ DOS HOMENS” (Jo. 1:1-4). “Ali estava a luz verdadeira, que alumia todo o homem que vem ao mundo” (Jo. 1:9). “Esta é mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos; que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas” (I Jo. 1:5). A criação de Deus, o Pai, não começa com trevas, mas com a luz, que é Jesus (Jo. 8:12).
2) Na primeira criação prevaleciam as trevas. Sobre Israel, quando saiu do Egito, o salmista diz: “E os levou por caminho direito, para irem à cidade que deviam habitar. Louvem a Jeová pela sua bondade, e pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens. Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta; tal como a que se assenta em trevas e sombra da morte, presa em aflição e em ferro. Por isso é que se rebelaram contra as palavras de Jeová” (Sl. 107:7-11). E mil anos mais tarde: “O juízo está longe de nós, e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão” (Is. 59:9-10). Na segunda criação prevalece a luz. Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo. 8:12). E disse aos discípulos: “Vós sois a luz do mundo: não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se põe debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos os que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt. 5:14-16).
3) Na primeira criação, o Sol era negro, pois estando presente não iluminava: “Porque não chegastes ao monte palpável, aceso em fogo, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao sonido da trombeta, e à voz das palavras …” (Hb. 12:18-19). Quem falava do meio das trevas era Jeová (Dt. 4:11-2; 5:23). E Jeová é um Sol (Sl. 84:11). Portanto Sol negro. O Sol da segunda criação é luminoso, e alumia também os que andam em trevas. Jesus falou: “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelo que vos maltratam e perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus, porque faz com que o seu Sol se levante sobre maus e bons” (Mt. 5:43-45).
4) Na primeira criação, o povo de Jeová, para onde ia, espalhava trevas: “E, chegando às nações para onde foram, profanaram o meu santo nome, pois se dizia deles: Estes são o povo de Jeová” (Ez. 36:20). O povo, antes de ser espalhado entre as nações, profanaram a sua própria terra (Jr. 19:4; Ez. 22:8). Profanaram o santuário (Ez. 23:38). Jeová queria ter um grande nome entre as nações, mas Israel profanou o nome de Jeová entre as nações (Ml. 1:11-12). Na segunda criação, o povo de Deus, o Pai, leva a luz resplandecente: “Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Fp. 2:14-15).
5) Na primeira criação, Eva arrasta o primeiro Adão para o pecado e a morte, e também a sua descendência (Gn. 3:6, 17-9). Na segunda, o último Adão, Jesus Cristo, salva a sua Igreja, isto é, sua Eva. Paulo explica o mistério, dizendo: “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo. Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo” (II Co. 11:2-3). E Paulo acrescenta: “Vós, maridos, amais vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a pela lavagem da água, pela palavra, para apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef. 5:25-27).
6) Na primeira criação, a herança futura e eterna era a Jerusalém da terra, pois o primeiro concerto, o de Jeová, só promete isso. Na segunda criação, a herança é a Jerusalém celestial, isto é, do céu. Paulo explica o enigma, revelando que a Jerusalém da terra é Hagar, a egípcia, cujos filhos são escravos com ela. Esse é o concerto do Sinai. Mas Sara é figura da Jerusalém celestial, e Isaque é figura dos filhos da promessa, isto é, dos que nasceram de novo, gerados pelo Espírito Santo. Ler Gl. 4:21-26 e Jo. 3:3-6. E que a criação espiritual já foi feita, pode-se comprovar na Epístola aos Hebreus, que diz: “Chegastes ao monte de Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; à universal assembléia e Igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o Mediador de uma Nova Aliança” (Hb. 12:22-24). Não está escrito: Chegareis, mas: Chegastes!
Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira