(363) – FIGURAS – II

FIGURAS 2

            Os intérpretes e os pregadores, todos afirmam que a libertação de Israel do Egito e do poder de Faraó, é uma admirável figura da salvação e libertação dos cristãos do mundo. Essas comparações têm como objetivo provar que há unidade entre o Velho e o Novo Testamento. Já ouvi palestras dizendo:

1. O Egito é figura deste mundo opressivo e cruel.

2. Faraó é figura de Satanás. O profeta Ezequiel declara da parte de Jeová: “Assim diz o Senhor Jeová: Eis-me contra ti, ó Faraó, rei do Egito, grande dragão, que pousas no meio dos teus rios, e que dizes: O meu rio é meu, e eu o fiz para mim” (Ez. 29:3). No livro de Apocalipse, lemos: “E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o diabo, e Satanás, que engana a todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele” (Ap. 12:9). Duas coisas iguais a uma terceira são iguais entre si. Faraó é o dragão e Satanás é o dragão, e assim Faraó é Satanás, ou melhor, figura de Satanás.

3. A libertação do Egito é figura da libertação dos cristãos. Foi dado a Jesus o livro do profeta Isaías. Ele abriu no lugar onde estava escrito: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me para curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos” (Lc. 4:17-19).

4. Os empecilhos de Faraó para reter o povo no Egito, são os laços, as armações de Satanás, para enfraquecer o cristão com o fim de derrubá-lo novamente. Pedro avisa dizendo: “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (I Pd. 5:8).

5. Moisés é figura de Jesus Cristo, como mediador (Gl. 3:19; Ex. 3:10).

Segundo as leis da hermenêutica não se pode forçar as comparações figuradas, especialmente as bíblicas, pois as Escrituras Sagradas foram produzidas pelo Espírito de Deus, logo não podem ter falhas na interpretação. Segundo o plano de Jeová, o povo de Israel deveria sair do Egito com o despojo. Jeová falou assim: “Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir, nem ainda por uma mão forte. Porque eu estenderei a minha mão, e ferirei ao Egito com todas as minhas maravilhas que farei no meio deles; depois vos deixará ir. E eu darei graça a este povo aos olhos dos egípcios; e acontecerá que, quando sairdes, não saireis vazios, porque cada mulher pedirá à sua vizinha e à sua hospede vasos de prata, e vasos de ouro, e vestidos, os quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas, e despojareis ao Egito” (Ex. 3:19-22). E isto se cumpriu (Ex. 12:35-36).

No Novo Testamento está escrito outra coisa: “Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada poderemos levar dele” (I Tm. 6:7). E Jesus declarou: “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (Lc. 14:33). O Velho Testamento testifica que quem parte deste mundo nada leva dele: “Não temas, quando alguém se enriquece, quando a glória de sua casa se engrandece; porque, quando morrer, nada levará consigo, nem a sua glória o acompanhará” (Sl. 49:16-17).

Em segundo lugar, para libertar seu povo, Jeová feriu o Egito com terríveis pragas, e também matou o filho primogênito de Faraó (Satanás). Na salvação dos homens, o ferido foi Jesus Cristo, o Filho de Deus Pai. Isaías diz: “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is. 53:4-5). Êxodo 3:20 não é figura de Isaías 53:4 e 5. Está parecendo forçada a exegese.

O terceiro ponto negativo da pretensa figura, é que Israel foi libertada pela ira e pela violência de Jeová, e os cristãos são salvos pelo amor infinito de Deus. O apóstolo João diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3:16). E o próprio Senhor Jesus Cristo declara que não foi obrigado a morrer na cruz; Ele mesmo se ofereceu para isso, dizendo: “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” (Jo. 10:17-18). Em outra ocasião Jesus disse: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (Jo. 15:13).

O quarto ponto de choque mostra que a libertação de Israel do Egito não é figura da libertação dos salvos por Jesus Cristo do mundo.

Jeová libertou carnalmente o povo de Israel do Egito e do poder de Faraó, mas espiritualmente continuavam escravos do pecado e dos costumes do Egito. Estevão, o primeiro mártir, revela essa verdade, dizendo: “Este Moisés é o que esteve entre a congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai, e com nossos pais, o qual recebeu palavras de vida para no-las dar. Ao qual nossos pais não quiseram obedecer, antes o rejeitaram, e em seu coração tornaram ao Egito” (At. 7:38-39).

Jesus faz exatamente o contrário, pois liberta espiritualmente o convertido do mal e do pecado, mas carnalmente continua debaixo do ódio deste mundo. Vejamos: O cristão autêntico não tem lugar neste mundo. Jesus assim falou: “Bem aventurados sereis quando os homens vos aborrecerem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do filho do homem” (Lc. 6:22). “Se vós fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo. 15:19). “Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas” (Mt. 10:17). “Então vos entregarão para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as gentes por causa do meu nome” (Mt. 24:9).

Quando Estevão, um dos sete diáconos, testificava de Jesus, e repreendia os religiosos fariseus, eles, enfurecidos, rangiam os dentes contra ele e o apedrejaram até a morte (At. 6:5; 7:52-60). Depois disso, os judeus fizeram uma grande perseguição contra a Igreja (At. 8:1).

Paulo, então, revelou o seguinte: “Por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus” (At. 14:22). O mesmo Paulo foi mais perseguido do que todos. Ele o declara dizendo: “Não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados, mais do que podíamos suportar, de tal modo que até da vida nos desesperamos” (II Co. 1:8). Os sofrimentos e torturas de Paulo eram tão terríveis, que alguns, ao ouvirem, desfaleciam. Então Paulo tentou consolá-los e fortalecê-los dizendo-lhes: “Portanto vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, que são a vossa glória” (Ef. 3:13).

Paulo, para preparar os irmãos, os tornou cientes da realidade tenebrosa em relação a este mundo. “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E NÃO SÓ ELA, MAS NÓS MESMOS, QUE TEMOS AS PRIMÍCIAS DO ESPÍRITO, TAMBÉM GEMEMOS EM NÓS MESMOS, ESPERANDO A ADOÇÃO, A SABER, A REDENÇÃO DO NOSSO CORPO” (Rm. 8:18-23).

Realmente, o Velho e o Novo Testamento não casam.

 

Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira

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