(348) – A IRA – IV

A   IRA   4

         Que é a ira? A alma do homem, segundo os pensadores antigos, é sujeita a movimentos, isto é, paixões. Eles concluíram que são sete os movimentos da alma, a saber: Medo, ou temor; seu movimento contrário é a ousadia. O segundo é o ódio, cujo antônimo é o amor. O terceiro é o orgulho; seu contrário é a humildade. O quarto é a avareza; seu antônimo é a caridade. O quinto é a preguiça, cujo oposto é a diligência. O sexto é a tristeza, cujo movimento contrário é a alegria. A sétima paixão é a ira, que não tem contrário. A ira é a paixão que nos incita contra alguém. É raiva, cólera, ódio, furor. Que é o iracundo? É aquele que fica irado por qualquer coisa que o contrarie. Eu e um amigo íamos à cidade de carro. Ele guiava. Numa esquina, quase trombou com outro carro. Aquele cristão amigo, que conversava comigo alegremente, repentinamente foi tomado de um furor irreprimível. Desceu do carro, vermelho de ódio e aos gritos. Não parecia mais aquele irmão calmo, sereno e alegre. A ira não tem movimento contrário, porquanto o iracundo é propenso à ira, e sempre reage com cólera, jamais com amor.

No salmo sete, verso onze, está escrito que deus se ira todos os dias. Ora, se ele se ira todos os dias, é propenso à ira. Suas reações são sempre acompanhadas de ira incontida. O Deus revelado por Jesus é amor, e o amor não se ira nunca. Diz o apóstolo Paulo que “o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (I Co. 13:7). O deus revelado por Moisés é totalmente diferente do Deus revelado por Jesus.

Na primeira vez que Jeová se manifestou a Moisés, no monte Horebe, ordenou-lhe que voltasse ao Egito para negociar a libertação dos hebreus da escravidão egípcia. Moisés, humildemente disse: Senhor Jeová, eu não sou homem eloqüente. Sou pesado de boca e pesado de língua. Escolhe outro que seja melhor do que eu (Ex. 4:10). Diz a palavra que a ira de Jeová se acendeu contra Moisés (v. 14). Este teve de aceitar a função. Depois das dez pragas, Faraó transtornado mandou que o povo se retirasse, e depois da dramática passagem do mar vermelho, dirigiram-se ao monte Sinai, pelo tempo de alguns dias. Jeová chamou Moisés, que subiu ao monte, e lá ficou quarenta dias. Embaixo, o povo forçou Arão a fazer o bezerro de ouro. Jeová ficou colérico, e decidiu trucidar o povo. Só não o fez pelas súplicas de Moisés (Ex. 32:10-14). Jeová declara que não irá com o povo, pois num acesso de cólera consumiria o povo (Ex. 33:5). Enviou, pois, um anjo para guiá-los (Ex. 32:34). Jeová ordenou a construção do tabernáculo, a arca do concerto, o altar do holocausto, o propiciatório, as colunas e os véus do tabernáculo, que separam o lugar santo do santíssimo. Arão e seus filhos são ungidos para ministrar o sacerdócio santo. Isto está nos capítulos 36 a 39 do livro de Êxodo. Os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, tomaram os incensários, puseram neles fogo, e puseram incenso sobre eles, e trouxeram fogo estranho perante a face de Jeová, o que lhes não ordenara. Então desceu fogo da ira de Jeová, e os consumiu; e morreram perante Jeová (Lv. 10:1-2). Jeová sempre foi propenso à ira, nunca ao amor. É o deus iracundo e assassino.

O povo começou a grande jornada pelo deserto escaldante, sem água e sem comida. De dia, a coluna de nuvem os guiava, e de noite a coluna de fogo para alumiar (Ex. 13:20-21)O povo queixou-se, e isso pareceu mal aos ouvidos de Jeová. Sua ira se acendeu, e fogo desceu de Jeová consumindo os que iam atrás (Nm. 11:1). Jeová mandou o maná, mas o povo não se deu bem com o maná e chorou. Então a ira de Jeová se tornou a ascender contra o povo cansado e faminto. E essa ira pareceu mal aos olhos de Moisés (Nm. 11:6-10). Não havia da parte de Jeová nenhuma manifestação de bondade e consolo. Só ira! Só ira! Só ira! Moisés então falou: É teu povo, e não meu. Mata-me, eu te peço (Nm. 11:11-15)Mais a frente, Miriã e Arão se voltaram contra Moisés, seu irmão. A ira de Jeová acendeu-se, e Miriã ficou leprosa pela praga de Jeová (Nm. 12:1-10). Moisés clamou a Jeová, que se tornou da sua ira, e curou Miriã. A rebelião de Coré, Datã e Abirão, que se arvoraram em líderes, para desbancar Moisés, Jeová, irado, abriu a terra, e eles com suas famílias desceram vivos ao sepulcro (Nm. 16:32-34). E fogo desceu do deus irado, e consumiu os duzentos e cincoenta maiorais da congregação, que seguiram a Coré, Datã e Abirão (Nm.16:1-2, 35). O povo não gostou dessa matança, e murmurou. Então Jeová, irado, mandou uma praga que matou mais catorze mil e setecentos (Nm. 16:49).

O povo murmurou por causa da sede, e Jeová mandou Moisés ferir a rocha com a vara de deus. Moisés, irado, feriu duas vezes. Jeová se ofendeu, e chamou o episódio de águas de Meribá, por causa da contenda. Jeová culpou Moisés e Arão (Nm. 20:12). E por causa disso, Moisés não entrou no repouso de Jeová, isto é, Canaã dos cananeus (Dt. 1:37). E Jeová declarou que Moisés e Arão não entrariam na terra prometida, porque Moisés feriu a rocha duas vezes (Nm. 27:12-14). O próprio Jeová enterrou Moisés, depois que lhe mostrou, do monte Nebo, a terra prometida. Moisés e Arão ficaram de fora, e foram contados com os malditos da ira (Sl. 95:8-10). E Jeová deu uma caprichada entregando o corpo do servo Moisés na mão de Satanás (Jd. 9).

A ira de Jeová não se apaga. Ela é permanente. Ele disse: “Porquanto me deixaram, e queimaram incenso a outros deuses, para me provocarem à ira por todas as obras das suas mãos, o meu furor se acendeu contra este lugar, e não se apagará” (II Rs. 22:17). Josias foi um dos melhores reis de Israel. Começou a reinar com oito anos, e foi fiel nos trinta e um anos que reinou. Mandou reparar o templo. Achado o livro da lei no meio dos entulhos, foi lido. Josias ouviu e se prostrou diante de Jeová, e ajuntando o povo, renova o pacto de Jeová. Extirpou todos os ídolos; acabou com os feiticeiros e adivinhos. Diz a palavra que antes dele não houve rei semelhante em conversão a Jeová de todo coração, e depois dele não houve outro igual (II Rs. 23:24-25). Celebrou a maior páscoa que se teve notícia em Israel (II Rs. 23:21-22). Com tudo isso, está escrito que Jeová não se demoveu do ardor da sua grande ira com que ardia contra Judá, por causa das provocações de Manassés; e disse Jeová que ia destruir e rejeitar o reino e a cidade de Jerusalém para sempre (II Rs. 23:26-27). Jeová guarda a ira para sempre. Ela não se apaga (Na. 1:2). A ira e o furor de Jeová eram tantos, que a ira destruidora passou dos homens para os animais, e para as árvores, e sobre os frutos; e diz ele que a ira se acendeu e não apagará (Jr. 7:20). Era tanta a ira e o furor, que Jeová grita que era fogo do inferno (Dt. 32:22).

Levando em conta as palavras de Jeová, que afirmam que ele guarda a ira, e também, aceitando como verdadeiras as suas declarações, quando diz que a sua ira se acendeu e não se apagará mais, dá para entender quando ele nos revela que ficou quarenta anos irado com seu povo (Sl. 95:10-11).Finalmente quarenta anos de furor contra seu povo não representam nada diante de uma ira eterna.

Se Jeová declara que a sua ira infernal não se apaga, pois é eterna, quando lemos no Novo Testamento que Deus, o Pai, é amor, só podemos chegar a duas conclusões: Ou Jeová e o Pai não são a mesma pessoa, ou, os que afirmam que Jeová é o Pai, tem de aceitar que ele se converteu e mudou a sua natureza. E se ele se converteu da ira para o amor, está fingindo, pois Isaías diz: “Eis que o dia de Jeová vem, horrendo, com furor e ira ardente, para pôr a terra em assolação e destruir os pecadores dela” (Is. 13:9). E no Apocalipse lemos: “Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o seu sinal na sua testa, ou na sua mão, também o tal beberá do vinho da ira de deus, e será atormentado com fogo e enxofre para todo o sempre” (Ap. 14:9-10). Como a ira de Jeová não muda, e nunca vai mudar, ele não tem amor para com ninguém, por isso não tem piedade dos próprios filhos (Jr. 13:14). O Pai é diferente. Ele ama os pecadores, por isso enviou o seu Filho, não para condená-los, mas para dar a sua vida por eles, e salvá-los da ira fumegante de Jeová (Jo. 3:16-17; Lc. 9:51-56).

 

Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira

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