A IRA 3
A ira é um movimento da alma, que a torna cruel, melindrosa, raivosa, mal humorada, cega às virtudes, vingativa e assassina. A ira é uma paixão satânica, por isso João revela que Satanás estava em guerra contra Miguel. Dois exércitos de anjos em confronto mortal. Certamente Satanás queria estabelecer seu trono nos céus; mas Satã não prevaleceu, e vencido foi precipitado na Terra, ele e seus anjos, para enganar os homens. A Terra foi invadida por esses espíritos das trevas, e dominada. Paulo diz: “Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou” (Rm. 8:20). E satã e seus anjos corromperam os homens e as mulheres, plantando a vaidade no coração deles, por isso Paulo diz: “Na esperança de que a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Rm. 8:21). E João termina a sua revelação, dizendo que Satanás desceu a nós, e tem GRANDE IRA, sabendo que tem pouco tempo(Ap. 12:12). Jesus Cristo é o único que pode quebrar os grilhões da vaidade e da corrupção, e arrancar os homens das garras de Satanás. Jesus disse a Paulo, quando apareceu em pessoa para ele, para o pôr como ministro e testemunha das coisas futuras do reino de Deus Pai, e disse mais a Paulo sobre sua missão: “Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; afim de que recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados pela fé em mim” (At. 26:18).
Como a ira é coisa própria do diabo, a ira é própria de loucos, por isso Salomão nos diz: “A ira do louco se conhece no mesmo dia” (Pv.12:16). É incrível que Jeová, ou Javé, também tenha grande ira, pois se ira todos os dias (Sl. 7:11). E cada vez que fica irado, manda pestes, pragas e fogo destruidor dos céus. Certa vez, quando Davi levou a arca do concerto de Jeová, da casa de Abinadabe para Jerusalém, o carro que a levava, pendeu de um lado, e para que a arca não caísse, Uzá, filho de Abinadabe, que vigiava a carroça, segurou com a mão a arca, no seu zelo. A ira de Jeová se acendeu, e feriu de morte a Uzá. Bem disse Salomão que a ira do louco se conhece no mesmo dia. Moisés estava enganado quando disse que Jeová é tardio em iras (Ex. 34:6).
Salomão disse outro provérbio: “Pesada é a pedra, e a areia também; mas a ira do insensato é mais pesada que elas ambas” (Pv. 27:3). Que é a insensatez? É o que não tem senso; oposto à razão; contrário ao bom senso. Cá entre nós, Jeová mandar duas ursas matarem quarenta e dois meninos só porque Elizeu os amaldiçoou, é falta de bom senso (II Rs. 2:23-24). Davi é outro caso. Ao cometer adultério com Bate-Seba, nasceu uma criança. Jeová passou por cima do pecado de Davi, que cometeu o crime, e mata a criança inocente? (II Sm. 12:15-19). Isso é contrario à razão e ao bom senso. Mas Salomão nos diz mais, com a sabedoria que lhe veio de Jeová: “Não te apresses no teu espírito a irar-te, porque a ira abriga-se no seio dos tolos” (Ec. 7:9). Isto quer dizer que, quanto mais tolo é alguém, mais se ira. E Jeová se ira todos os dias, isto é, todos os dias faz papel de tolo. É fácil provar. O povo de Israel pediu a Samuel que constitui-se um rei sobre eles, pois os filhos do mesmo Samuel não eram bons. Quem escolheu o novo rei foi o próprio Jeová. É claro que, se o rei fosse bom, o povo iria louvar e glorificar o nome de Jeová; mas Saul foi desobediente, rebelde e insensato. Então Jeová disse: “Arrependo-me de haver posto a Saul como rei, porquanto deixou de me seguir, e não executou as minhas palavras” (I Sm. 15:11). Não fica bem para um deus, escolher um rei para o seu povo, e depois se arrepender do que fez. Ficou desmoralizado diante do povo, fazendo papel de tolo. A única forma de obrigar o povo a se dobrar é mandar pragas e pestes, recurso diabólico, pois não se pega moscas com vinagre.
Todo espírito maligno, ou demônio, é violento e iracundo. Certa vez, ao expulsar um espírito imundo do possesso, o espírito me ameaçou de morte antes de sair, para tentar me amedrontar. E quando saía, saía espalhando brasa. Jesus libertou um endemoninhado: “O Espírito imundo, convulsionando-o, e clamando com grande voz, sai dele” (Mc. 1:26). Jeová meteu um espírito maligno em Saul, que só sentia alívio quando Davi tangia a sua harpa. Pois o espírito maligno produziu tal furor em Saul, que por duas vezes tentou encravar a lança em Davi (I Sm. 16:23; 18:10-11; 19:9-10). Pois Jeová, quando a sua ira se acende por qualquer motivo, mata indiscriminadamente homens, mulheres e crianças. Jeremias disse que Jeová “fez a terra com o seu poder, e ordenou o mundo com a sua sabedoria, e estendeu os céus com o seu entendimento” (Jr. 51:15). E se ira como Satanás? E quando se ira sai-lhe fumo pelas narinas, da sua boca sai um fogo devorador; e sai soltando carvões que se incendeiam, e debaixo dos pés há trevas e escuridão? (II Sm. 22:8-10). É realmente um espetáculo do inferno. Ele mesmo diz que a sua ira se acende até o mais profundo do inferno (Dt. 32:22). Onde está o entendimento divino nesses espetáculos das trevas?
Jeová condena sacrifícios humanos. Declara que tais sacrifícios profanam o seu nome sagrado (Lv. 18:21). Quem cometesse tal abominação morreria (Lv. 20:2-5). Mas quando a sua ira se acende, cheio de ódio, aceita sacrifícios humanos, como Moloque. Em Baal Peor, quando os hebreus se prostituíram com as moabitas a conselho de Balaão, Jeová deu a seguinte ordem: “Toma todos os cabeças do povo, e enforca-os a Jeová diante do sol, e o ardor da ira de Jeová se retirará de Israel” (Nm. 25:4). Quanta sabedoria há em se fazer igual ao ídolo.
Mas a coisa vai mais longe. O pecado de Balaão foi muito grave, e o furor de Jeová passou dos limites, quando o profeta louco, seguiu os profetas de Moabe, até a presença de Balaque, que queria pagar alto preço por uma maldição contra Israel. O texto diz: “E a ira de Jeová acendeu-se, porque ele se ia, e o anjo de Jeová pôs-se-lhe no caminho por Satanás” (Nm. 22:22). Nas Bíblias está escrito adversário, mas no original hebraico está escrito SHATÃ (Satanás). O anjo repete novamente no verso trinta e dois. O anjo de Jeová e Jeová são a mesma pessoa (Ex. 3:2-4; Gn.22:15-16). Manda a lógica e a razão que o anjo deveria dizer: Eu vim para te punir, ou, Jeová me enviou para te castigar. Mas dizer que veio para ser Satanás, nos leva a concluir que, quando a ira é muito grande, Jeová se iguala a Satanás. Foi o que sucedeu quando Jeová se irou contra Israel sem motivo. O reino estava em paz perfeita. Davi, já velho, estava na presença de Jeová em retidão, e propõe construir a casa de Jeová (I Cr. 17:1-2). Como reinava a paz, e houve uma fome de três anos, de ano em ano. Davi, em oração perguntou a Jeová qual o motivo. Jeová lhe respondeu que estava irado com Saul, morto a mais de trinta anos, pois a ira de Jeová contra alguém não se apaga jamais (II Sm. 21:1-14).
Sem motivo aparente, diz a escritura: “A ira de Jeová se tornou a acender contra Israel, e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá” (II Sm. 24:1). Nas crônicas de Israel está diferente a narrativa: “Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel” (I Cr. 21:1). Nem Davi, nem o povo de Israel tinham dado motivo para que Jeová se irasse. Jeová simplesmente teve um ataque de furor gratuito, e incitou Davi a pecar, isto é, instigou, impeliu, moveu; e Davi obedeceu. Foi tão descabida a ação de Jeová, tão criminosa, pois o que ele queria era dizimar o povo, pois matou pela peste setenta mil homens (I Cr. 21:11-14).
Felizmente Deus, o Pai, enviou Jesus para revelar, através das obras de Jesus, o caráter do Deus verdadeiro (Jo. 10:31-32, 37-38; 14:6-11).
Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira