Abraão é considerado pelo apóstolo Paulo como pai da fé, pois foi o primeiro que creu em Deus. “Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado por justiça. Sabei pois que os que são da fé são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o Evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que, os que são da fé, são benditos com o crente Abraão” (Gl.3: 6-9).
Analisemos qual a fé de Abraão, e no que ele creu.
1. Jeová ordenou a Abrão que saísse da sua terra e da casa de seus pais, para ir a outra terra. Prometeu fazer de Abrão uma grande nação e abençoá-lo (Gn.12:1-3). Depois dessa promessa, havendo uma grande fome em Canaã, Abrão foi obrigado a descer ao Egito. Como Sarai era formosa, Abrão temeu ser morto, e disse a Sarai: “Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e eu viva”. De fato, os egípcios gabaram a beleza de Sarai diante de Faraó, e este tomou-a por concubina, ou melhor, como amante. Se Abrão tivesse crido em Jeová, não teria entregue sua mulher para se prostituir, pois Sarai viveu com Faraó o tempo suficiente para Abrão se tornar milionário pelos favores de Faraó (Gn. 12:10-16). O fato é que Abrão não creu e tratou de proteger a própria vida, sacrificando a mulher.
2. Jeová prometeu a terra de Canaã a Abrão como herança perpétua. “Porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua semente, para sempre” (Gn.13:15). Para que Abrão cresse, Jeová fez um pacto com sacrifícios de animais, em meio a uma escuridão e um forno de fumaça, selando a promessa com esse pacto (Gn.15:7-21). Mais uma vez Jeová se apresenta a Abrão dizendo: “Eu sou o Todo Poderoso”. “Estabelecerei o meu concerto entre mim e ti e a tua semente depois de ti em suas gerações, por concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus, e a tua semente depois de ti. E TE DAREI A TI E A TUA SEMENTE DEPOIS DE TI, A TERRA DAS TUAS PEREGRINAÇÕES POR PERPÉTUA POSSESSÃO” (Gn.17:7-8). O livro de Hebreus faz uma revelação assustadora: “Pela fé habitou Abraão na terra da promessa como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa, porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus” (Hb.11:9-10). Abrão ouvia uma coisa, e cria em outra que Jeová não prometeu? Abraão desprezou a promessa de Jeová pela fé em outra coisa, que Jesus prometera (Jo 8:56). A grande verdade é que Abrão não creu nem aceitou a promessa de Jeová.
3. Jeová havia prometido diversas vezes que Abrão teria grande descendência, e Sarai era estéril. O tempo passava e não nascia o filho prometido. Abrão começou a reclamar a Jeová sobre o herdeiro que não vinha nunca. Então Jeová, solenemente, afirmou que lhe daria o filho desejado, e ainda acrescentou: “Olha as estrelas do céu. Assim será a tua descendência” (Gn.15:5-6). O texto termina afirmando que Abrão creu em Jeová, mas logo no capítulo seguinte, lemos: “Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe gerava filhos, e ele tinha uma serva egípcia, cujo nome era Hagar, E disse Sarai a Abrão: Eis que Jeová me tem impedido de gerar; entra pois, à minha serva; porventura terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai … E ele entrou a Hagar, e ela concebeu” (Gn.16:1-2,4).
4. Se Abrão e Sarai tivessem crido na promessa de Jeová, feita no capítulo 15, teriam esperado. Sarai, oferecendo Hagar a Abrão, revela não ter crido em Jeová, e Abrão aceitando Hagar, por concubina, também não creu na promessa. Se Abrão tivesse crido, esperava Sarai conceber. A prova da incredulidade de Abraão está em Gn. 17:15-18, quando Jeová afirma que Sara vai conceber e Abraão escondeu o rosto para o sorriso irônico da incredulidade, e dizendo no coração: “Oxalá que viva Ismael diante do teu rosto”. Sara também riu o riso da incredulidade em Gn.18:9-14. O fato é que nem Sara e nem Abrão creram na promessa de Jeová, apesar de ter crido em Gn.15:5-6 (Creu porque já tinha planos com Hagar).
5. Jeová havia prometido descendência numerosa a Abrão, como as estrelas do céu. Esse filho prometido levou vinte e cinco anos para nascer. Quando esse menino era adolescente, Jeová provou a Abraão pedindo-lhe o filho prometido em sacrifício. Abraão obedeceu cegamente, mas no instante em que ergueu o cutelo para imolar Isaque, Jeová bradou do céu dizendo: “Abraão, não faças isso; agora sei que me temes”. Depois do nascimento de Isaque passaram-se 37 anos até a morte de Sara, e ela não gerou mais nenhum filho (Gn.17:17-21; 23:1-2). Sara morreu com 127 anos, portanto ficou 37 anos estéril depois de gerar Isaque. Como Jeová já havia pedido o sacrifício de Isaque uma vez, Abraão temia que o fato se repetisse, e assim depois da morte de Sara, casou novamente para assegurar a descendência (Gn.25:1-5). Este fato configura incredulidade de Abraão mais uma vez, pois se tivesse certeza de que Isaque não morreria, jamais casaria de novo.
O fato é que Abraão nunca creu em Jeová. Como é ele chamado por Paulo o pai da fé? (Gl.3:6-9). Em alguma coisa Abraão creu para ser pai da fé, mas não em Jeová e suas promessas. Em quem Abraão creu? Jesus disse: “Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o e alegrou-se” (Jo. 8:56). Jesus pregou o Evangelho a Abraão e lhe fez promessas, não terrenas e temporais, mas eternas e celestiais. A descendência prometida por Jesus não é física, mas espiritual. “Não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência” (Rom.9:8). A descendência espiritual nunca foi prometida por Jeová. Os verdadeiros cristãos são nascidos do Espírito e não da carne, como prometeu Jeová (Jo.1:12-13).
Autoria: Pastor Olavo S. Pereira