O TORMENTO DE JÓ
Jeová, o deus conhecido no tempo de Jó, dá testemunho da retidão deste varão. Num certo dia, em que os filhos de deus vieram apresentar-se perante o mesmo Jeová, Satanás estava entre eles (Jó 1:6). Se Satanás veio entre os filhos de deus, é claro que tinha algum cargo na reino de Jeová. Essa verdade é comprovada no fato de Jeová ter autorizado satã a atormentar Jó. Satanás era ministro de confiança absoluta de Jeová para ser incumbido de tarefa tão importante. Esse fiel servidor de Jeová recebeu ordem para não tocar em Jó, somente no que possuía. Satã, com autorização de, pelas mãos dos sabeus feriu a fio de espada seus dez filhos; um outro mensageiro declarou que desceu fogo de Deus consumindo tudo; o terceiro mensageiro contou a Jó que os caldeus cometeram o hediondo crime; um quarto mensageiro chegou com a notícia: um vento deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os filhos matando-os (Jó 1:12-19). Jó, humilde e fiel, disse: “Nu sai do ventre da minha mãe, e nu tornarei para lá; Jeová deu, e Jeová tirou; bendito seja o nome de Jeová” (Jó 1:21).
Vindo um outro dia em que os filhos de deus vieram apresentar-se diante de Jeová, lá estava de novo Satanás entre eles (Jó 2:1). Jeová, pela segunda vez, diz a satã: Donde vens? De rodear a terra e passar por ela (Jó 2:2). E pela segunda vez Jeová lhe diz: “Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a deus, e desviando-se do mal?” Satã novamente tenta a Jeová, dizendo: “Estende, porém, a tua mão, e toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema de ti na tua face!” (Jó 2:3-5). “Satã então feriu a Jó duma chaga maligna, desde a planta do pé até ao alto da cabeça” (Jó 2:7-8). Incitado pela mulher a amaldiçoar aquele deus e depois morrer, Jó respondeu: Receberemos o bem de deus, e não receberíamos também o mal? E Jó não pecou com os seus lábios (Jó 2:9-10).
Daí para frente, Jó inicia uma série de acusações contra Jeová:
1- “Entrega-me Jeová ao perverso, e nas mãos dos ímpios me faz cair. Descansado estava eu, porém ele me quebrantou; e pegou-me pelo pescoço, e me despedaçou; também me pôs por seu alvo. Cercaram-me os seus frecheiros; atravessa-me os rins, e não me poupa, e o meu fel derrama por terra. Quebranta-me com quebranto sobre quebranto; arremete contra mim como um valente” (Jó 16:11-14). Jeová entregou Jó na mão de Satanás, e Jó afirma que o mal que o assola vem de deus?
2- “Sabei agora que Jeová é que me transtornou, e com a sua rede me cercou. Eis que clamo: VIOLÊNCIA! Mas não sou ouvido; grito: SOCORRO! Mas não há justiça. O meu caminho ele entrincheirou, e não posso passar; e nas minhas veredas pôs trevas. Da minha honra me despojou, e tirou-me a coroa da minha cabeça. Quebrou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como a uma árvore. E fez inflamar contra mim a sua ira, e me reputou para consigo como a um de seus inimigos. Juntas vieram as suas tropas, e prepararam contra mim o seu caminho, e se acamparam ao redor da minha tenda” (Jó 19:6-12). Estas palavras de Jó põem em cheque a fidelidade e a justiça de Jeová, pois quando Satanás sugeriu que Jó, tocado pelo mal, iria blasfemar, e Jeová atendeu. E quando Jó, o servo fiel e puro clamou por socorro a deus, não foi ouvido. Para Jeová as desconfianças injustas de satã tem mais peso do que a oração e o pedido de socorro do servo fiel. Jesus agiu diferente, dizendo: “Tudo o que pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado na Filho” (Jo. 14:13). E quando o diabo quis cirandar os apóstolos, sem que eles pedissem, Jesus intercedeu junto ao Pai para anular o plano nefasto daqueles dois sócios (Lc. 22:31-32).
3- “Jeová guarda a sua violência para os seus filhos, e lhes dá o pago, para que o conheça” (Jó 21:19). Jesus fala outra coisa com relação a Deus, seu Pai: “Qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vosso filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhos pedirem?” (Mt. 7:9-11).
4- “Compadecei-me de mim, amigos meus; compadecei-vos de mim, porque a mão de Jeová me tocou” (Jó 19:21). “Desvia tua mão para longe de mim, e não me espante o teu terror” (Jó 13:21). As mãos de Jesus só curavam (Mc. 5:23). As mãos de Jesus só abençoam (Mc. 10:16).
5- “Vive deus, que desviou a minha causa, e o Todo-poderoso (El Shaday), que amargurou a minha alma” (Jó 27:2). Jó não atribui a Satanás as suas amarguras, mas ao todo poderoso El Shaday, de onde vem as assolações. Isaías diz: “Uivai, porque o dia de Jeová está perto; vem do Todo-poderoso como assolação” (Is. 13:6). Jesus declarou a sua missão, dizendo: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt. 11:28).
6- “Porque Jeová desatou a sua corda, e me oprimiu” (Jó 30:11). Pode Deus oprimir alguém? Essa função de oprimir é para Satanás, por isso o apóstolo Paulo disse: “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com Espírito Santo e com virtudes; o qual andou fazendo o bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At. 10:38). Jeová, em contrário, oprimia seu povo escolhido: “Pelo que Jeová rejeitou a toda a semente de Israel, e os oprimiu, e os deu nas mãos dos despojadores” (II Rs. 17:20; Am. 6:14; Is. 3:4-5; Dt. 28:29, 33).
7- Jó disse: “Sou justo, e Jeová tirou o meu direito. Apesar do meu direito, sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão” (Jó 34:5-6). Foi Jeová quem testificou que Jó era justo e sem transgressão (Jó 1:8). O próprio Jeová confessa-se o autor da desgraça de Jó. Ele disse a Satanás: “Observaste a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a deus, e desviando-se do mal, e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa” (Jó 2:3).
8- Disse Jó a Jeová: “Quantas culpas e pecados tenho eu? Notifica-me a minha transgressão e o meu pecado. Porque escondes o teu rosto, e me tens por inimigo?” (Jó 13:23-24, 33:9-10). Jó não sabia que estava nas mãos do maligno e perverso Satanás, e por isso atribuía a Jeová o seu flagelo, mas Jeová nunca revelou a Jó a trama que causava o seu tormento. É por isso que Jó declara que com a luz de Jeová caminhava em trevas (Jó 29:3). Os de Jesus Cristo não andam em trevas (Jo. 8:12; 12:46). E mais: Os de Jesus são a luz deste mundo (Mt. 5:14-16). Paulo diz que os cristãos são astros de luz (Fp. 2:15).
9- No final do livro de Jó, Jeová fala a Elifaz, e seus amigos: “Minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois amigos, pois não dissestes de mim o que era reto, como meu servo Jó (Jó 42:7). Mas aqueles três homens só defenderam Jeová. E Jó atribuiu todo seu mal a Jeová. Como fica? Jeová se sentiu louvado por Jó quando o acusou do mal que o oprimia, pois Jeová se deleita em fazer o mal. É o que lemos em Deuteronômio 28:63. E Jeová não permite que o mal seja atribuído a Satanás, pois ele, Jeová, é o criador do mal (Is. 45:7). E afirma com orgulho que todo e qualquer mal que possa suceder debaixo do céu, tem como causa o seu furor maléfico. Diz isso em Amós 3:6: “Tocar-se-á a buzina na cidade, e o povo não estremecerá? Sucederá qualquer mal à cidade, e Jeová não o terá feito?”
Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira