O AMOR NÃO SE IRRITA
(1 Cor. 13:5)
Que é irritação? É agastamento, cólera permanente. E que é irritar? É encolerizar, agravar, provocar. Irritável é aquele que se irrita facilmente. É norma que Deus se irrite? Na Bíblia lemos que Deus é amor:“Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor” (I Jo. 4:8). Paulo afirma que o amor não se irrita em I Co. 13:5. Ora, se Deus é amor, e o amor não se irrita, Deus não se irrita. E se Deus não se irrita, também não fica irado, pois a ira é uma das paixões da alma, e Deus é espírito (Jo. 4:24). E se Deus, o Pai, não se irrita porque o amor não se irrita, e também não fica irado porque o amor tudo suporta, tudo sofre, e tudo espera (I Co. 13:7), é óbvio que Deus não se enfurece nem se encoleriza, pois a cólera e o furor são a irritação elevada ao infinito dos infernos; e Deus, o Pai, não é sujeito a esses movimentos das almas instáveis dos homens. Se o amor não se irrita, quem se irrita não ama. Mas em contrário, lemos no Velho Testamento que deus se irrita facilmente. O nome desse deus é Jeová. Se Deus, o Pai, porque é amor, não se irrita, e Jeová se irrita, Jeová não é o Pai. Vejamos o que dizem as Escrituras do Velho Testamento sobre a irritação de Jeová. Moisés registrou: “Com deuses estranhos o provocaram a zelos; com abominações o irritaram” (Dt. 32:16). A idolatria irrita Jeová. Jeroboão, o primeiro rei de Israel depois da divisão, fez dois bezerros de ouro. Na tradução da Vulgata lemos que isso irritou a Jeová (II Rs. 15:30). Baasa conspirou contra Jeroboão, e o matou, e reinou em seu lugar, e matou toda a descendência de Jeroboão, como Jeová predisse (I Rs. 13:34). Mas depois disso, Baasa praticou os pecados de Jeroboão. Então Jeová falou, dizendo: “Porquanto te levantei do pó, e te pus por chefe sobre o meu povo Israel, e tu andaste no caminho de Jeroboão, e fizeste pecar o meu povo Israel, irritando-me com os seus pecados, eis que tirarei os descendentes de Baasa”(I Rs. 16:2-3). A irritação produziu ódio e vingança assassina sobre os inocentes. Mas o amor não se irrita. Baasa morreu, e seu filho Ela reinou em seu lugar. E Zinri, servo de Ela, conspirou contra ele e o matou, e depois reinou em seu lugar. E estando no trono, exterminou toda a casa de Ela, filho de Baaza, para saciar a cólera de Jeová. E Jeová caprichou, pois mandou matar, além da família, os parentes, e até os amigos (I Rs. 16:6-13). Mas a caridade é benigna, e não se irrita; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (I Co. 13:5-7). E Deus, o Pai, é caridade (I Jo. 4:8). Mas Zinri, que foi usado por Jeová para exterminar a casa de Baasa (I Rs. 16:11-12), também se corrompeu e andou no caminho de Jeroboão. Então Jeová levantou Onri contra Zinri, para exterminar sua casa (I Rs. 16:15-19). Jeroboão irritou a Jeová (I Rs. 15:30). Depois Baasa irritou a Jeová (I Rs. 16:2; 16:13). Em seguida Onri irritou a Jeová (I Rs. 16:25-26). Também Acabe, filho de Onri, irritou a Jeová com seus pecados (I Rs. 16:30-33). Nessa história toda, todos estes reis, levantados pelo próprio Jeová; o irritavam com sua idolatria, e Jeová se deixava irritar, nivelando-se assim aos homens em suas fraquezas. A irritabilidade é uma fraqueza própria de homens iracundos. O estoicismo, escola filosófica fundada por Zenon no século quarto antes de Jesus Cristo, tinha como fim tornar o homem senhor de suas paixões, cultivando o domínio próprio, os movimentos da alma, isto é, a ira, o ciúme, a inveja, o medo, o temor, a vaidade, o orgulho. Sua escola e pensamentos foram divulgados por Crisipo, seu maior discípulo. Ora, se os filósofos da antigüidade conseguiam através de conceitos dominar inclinações e impulsos incontroláveis e próprios da natureza animal do homem, não dá para aceitar que um ser, que se apresenta como o Deus criador, seja susceptível de irritar-se com os atos indignos de homens decaídos. Não é compatível com a perfeição de Deus. E o que agrava manifestações impróprias dessa divindade, é o fato do apóstolo João, inspirado pelo Espírito Santo, declarar que Deus é amor (I Jo. 4:8). E Paulo, também cheio do Espírito Santo, afirmar que o amor não de porta com indecência, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, e não suspeita mal (I Co. 13:5). E Jeová, imitando os homens deste mundo, busca os próprios interesses, irrita-se facilmente, e suspeita mal dos homens. O salmista afirma que Jeová se ira todos os dias (Sl. 7:11). Se Jeová se ira todos os dias, tudo o que faz, é com ira. Para Israel, declarou: “Dei-te um rei na minha ira, e to tirei no meu furor” (Os. 13:11). Tirou Israel do Egito, e o levou ao deserto. O povo sentiu fome e pediu pão. Jeová atendeu e mandou o maná; depois mandou carne. Na hora que o povo comia, a ira de Jeová os matou (Sl. 78:24-31).
A irritabilidade de Jeová desencadeava furor. Ele declarou a Ezequiel: “Viste, filho do homem? Há coisa mais leviana para a casa de Judá, do que essas abominações que fazem aqui? Havendo enchido a terra de violência, tornam a irritar-me; e, ei-los a chegar o ramo do seu nariz. Pelo que também eu procederei com furor; o meu olho não poupará; nem terei piedade. Ainda que me gritem aos ouvidos com grande voz, eu não os ouvirei” (Ez. 8:17-18).
A mente da pessoa irritada fica curtindo a ira, e inventando algo para se livrar de quem o irrita. E a fórmula, posta em prática, muitas vezes, é mil vezes pior que o ato de irritar. Citamos a rebelião de Core, Data e Abirão. Estes três homens levantaram mais 250 varões, maiorais da congregação, e investiram contra Moisés. Foram colocados os três responsáveis diante da congregação e Moisés disse:“Se estes morrerem como morrem todos os homens, Jeová não me enviou. Mas se Jeová criar uma coisa nova, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao sepulcro, então conhecereis que estes homens irritaram a Jeová” (Nm. 16:29-30). Vejamos o que Jeová, irritado, fez: “E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas coisas, como também a todos os homens que pertenciam a Core, e a toda a sua fazenda. E eles, e tudo o que era seu desceram vivos ao sepulcro” (Nm. 16:32-33). Tudo o que era seu incluiu suas mulheres, seus filhos, e suas crianças (Nm. 16:27).
Em seguida, o fogo de Jeová consumiu os 250 varões, maiorais da congregação (Nm. 16:35). Vendo isso, o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Vós matastes o povo de Jeová. Então Jeová mandou uma praga que matou mais de 14.700 homens de Israel. E teria destruído todo Israel, se Moisés e Arão não tivessem feito expiação pelo povo (Nm. 16:46-49).
Duas coisas precisam ser frisadas.
- Moisés declarou que todo este mal não procedeu de seu coração, mas do coração de Jeová (Nm. 16:28).
- Jeová não matou de forma tão cruel seu povo para impor disciplina, mas porque estava irritado e cheio de furor. Mas Deus Pai é amor, e o amor não se irrita.
Pastor: Olavo Silveira Pereira