(258) – LADRÕES E SALTEADORES – III

LADRÕES E SALTEADORES III

 

Na primeira carta do apóstolo João, lemos: “Na caridade não há temor, antes a perfeita caridade lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em caridade” (I Jo. 4:18). Que é que João está tentando ensinar? Ele afirma que quem teme, teme o castigo, e porque teme deixa de fazer inclusive o necessário, e assim nunca chegará à perfeição. O temor é prova de imperfeição. Na vida espiritual, se a caridade existe, esta lança fora o temor. O texto diz: “A perfeita caridade”. Se há uma caridade que é perfeita, existem muitas que não são perfeitas.

Vamos focalizar aqui uma caridade que não é perfeita. O mandamento da lei manda amar a Deus sobre todas as coisas, a ao próximo como a nós mesmos (Mt. 22:34-40; Dt. 6:5; Lv. 19:18).

No Velho Testamento lemos que quem fere é Jeová: “Deus disparará sobre eles uma seta, e de repente ficarão feridos” (Sl. 64:7)“Deus ferirá gravemente a cabeça dos seus inimigos e o crânio cabeludo do que anda em suas culpas” (Sl. 68:21). “Acendeu-se a ira de Jeová contra o seu povo, e estendeu a sua mão contra ele, e o feriu. Os seus cadáveres eram como o monturo no meio das ruas” (Is. 5:25). Está escrito que Jeová fere, e também cura (Os. 6:1; Jó 5:18). Está também escrito, que, se um servo de Jeová ajuda ao ímpio, o que ajuda é culpado, por isso os israelitas temiam ajudar alguém ferido, ou na miséria, ou pestiado como Jó; pois tinham certeza que o tal estava debaixo de maldição por algum pecado grave. Temos um caso interessante na Bíblia. Jeosafá, rei de Judá, era bom, e andou nos caminhos de Davi. E Jeová confirmou o reino na sua mão, e teve riquezas e glória (II Cr. 17:1-6). Jeosafá, entretanto, cometeu um erro. Casou com a filha de Acabe, e em conseqüência se aliou a ele na guerra (II Cr. 18:1-3). Jeová enviou um vidente para repreender Jeosafá, que lhe disse: “Devias tu ajudar ao ímpio, e amar aqueles que a Jeová aborrecem? Por isso virá sobre ti grande ira da parte de Jeová” (II Cr. 19:1-2). Para Jeová não importa se a pessoa é boa e fiel. Tropeçou paga caro. Não importa tempo de serviço caprichado, recheado de sacrifícios. O pobre Moisés serviu a Jeová quarenta anos humildemente, suportando todo tipo de pressões e tensão. Era tanta, que Moisés achou muito pesado o cargo e pediu a morte (Nm. 11:11-15). Depois dos quarenta anos Jeová não levou em conta a fidelidade de Moisés e proibiu-o de entrar na terra prometida (Dt. 34:1-5). Quando Davi levou a arca do testamento para Jerusalém, o carro pendeu de um lado, e Uza, com a mão protegeu a arca que estava caindo. Então a ira de Jeová se acendeu contra Uza, e o feriu ali pela imprudência; e morreu ali, junto à arca (II Sm. 6:1-7).

Passemos para uma parábola contada por Jesus a um doutor da lei, que lhe perguntou dizendo:“Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Jesus lhe disse: Que está escrito na lei? Ele respondeu e disse: Amarás a Jeová teu deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao próximo como a ti mesmo. Disse Jesus: Respondeste bem; faze isso e viverás. E ele disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E respondeu Jesus: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu na mão dos salteadores, os quais o despojaram, e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. Ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando aquele lugar, e vendo o passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele, e vendo-o moveu-se de íntima  compaixão. E aproximando- se, atou- lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo- o na sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele. E Jesus perguntou ao doutor da lei: Qual, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia. Disse pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira”(Lc. 10:25-37). Ora, o sacerdote ministrava no templo, e o levita servia: e ambos conheciam sobejamente o Velho Testamento e a lei de Jeová. Para eles, um homem ferido era maldito de Jeová. Diz o salmista: “Jeová guarda a todos os que o amam, mas todos os ímpios serão destruídos” (Sl. 145:20). “O mal perseguirá os pecadores, mas os justos serão galardoados com o bem” (Pv. 13:21)“A maldição sem causa não virá” (Pv. 26:2).

Como, pois iriam socorrer o ferido, se era maldito de Jeová? Poderiam pagar com a sua vida como Uza, ou como os filhos de Arão (II Sm. 6:6-7; Lv. 10:1-2). O temor anulou a caridade, e passaram de largo. O sacerdote e o Levita foram assaltados e saqueados na coisa mais preciosa que o ser humano tem: “A CARIDADE”. O sacerdote e o levita, que adoravam a Jeová, foram saqueados da caridade pela guarda da lei e pelo temor, e incrivelmente, o samaritano, que adorava os bezerros de Jeroboão, tinha caridade. É de arrepiar os cabelos.  Jeová obriga a guardar o Sábado. Conheci dois irmãos. Um deles era adventista. Os dois trabalhavam com fotografia. O não crente vendeu ao irmão adventista sua máquina fotográfica. Depois de um ano pegou um trabalho que só aquela máquina fazia. Era Sábado. O trabalho era urgente. Telefonou para o irmão, e, pediu a máquina emprestada. O irmão se negou, afirmando que no Sábado era ilícito trabalhar. O outro, então lhe disse: Mas eu não sou crente, e assumo a responsabilidade diante de Deus. Se eu não fizer o trabalho perco o freguês. O que guardava a lei respondeu: Se eu te emprestar a máquina, serei cúmplice; não vou quebrar a lei do meu deus. Fica claro que a guarda da lei e do Sábado anulam a caridade pelo temor; e aquele que teme não é perfeito em caridade (I Jo. 4:18).

Vamos narrar um caso bíblico escabroso do Velho Testamento. “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem sincero, reto e temente a Deus, e desviava-se do mal. E nasceram- lhe sete filhos e três filhas. E era o seu gado sete mil ovelhas e três mil camelos, e quinhentas juntas de bois, e quinhentos jumentos, e muita gente a seu serviço. Era este homem o maior que todos os do oriente” (Jó 1:1-3). “E num dia em que os filhos de deus vieram apresentar-se perante Jeová; veio também Satanás entre eles. E Jeová disse a Satanás: Donde vens? E Satã respondeu: De rodear a terra e passear por ela. Disse Jeová a Satã: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero, e reto, temente a deus, e desviando-se do mal. Então respondeu Satã a Jeová, e disse: Porventura teme Jó a deus debalde? Porventura não o cercaste tu de bens a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? Tua benção está sobre ele; mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema de ti na tua face” (Jó 1:6-11). O plano de Satanás era pegar Jó de assalto. Matando os dez filhos, dizimando os rebanhos, e queimando as propriedades, era o caminho para saquear Jó por dentro, roubando-lhe a sinceridade, a pureza de sentimentos, a retidão. Jeová não podia concordar com Satanás. Era obrigatório proteger e guardar seu servo de acordo com sua própria palavra. “Jeová ama o juízo e não desampara os seus santos; eles são preservados para sempre; mas a descendência dos ímpios será desarraigada” (Sl. 37:28).

Salmo 121 é um cântico que exalta a fidelidade de Jeová em guardar seus servos. Mas contrariando suas promessas, concordou com Satanás. Como pode ser isso? O grave do problema é que Satanás disse a Jeová: “Toca nele”. E Jeová o autorizou, isto é, assumiu o propósito de saqueá-lo espiritualmente. Todos os filhos mortos, os rebanhos dizimados, os campos devastados pelo fogo, mas Jó disse: “Jeová deu, Jeová tirou. Bendito seja o nome de Jeová” (Jó 1:21). Depois dessa prova terrível, Satanás volta a carga, pois sabe que o homem é carne e carne é corrupção (I Co. 15:50). E pela segunda vez Jeová concorda com o plano satânico, de destruir Jó por dentro. Sua mulher, vendo-o leproso, lhe diz: “Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a deus, e morre” (Jó 2:9). Jó não caiu, mas sua mulher foi saqueada por Jeová; que poderia tê-la ganho guardando seu marido.

 

Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira

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