LADRÕES E SALTEADORES II
Jesus Cristo antes da morte e ressurreição, nunca dirigiu a sua doutrina a não ser para o seu povo, os judeus. Vejamos o que declarou quando enviou seus doze discípulos: “Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou dizendo: Não ireis pelo caminho das gentes, nem entrareis em cidade de samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt. 10:5-6). E depois disse: “Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt. 15:24). Jesus, nascido em carne, era o Messias de Israel. Ele mesmo o declarou quando dialogava com a mulher samaritana, aquela que teve cinco maridos. Quando ela disse:“Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo” (Jo. 4:25-26). E o apóstolo Paulo revela que Jesus, só foi de Israel segundo a carne. “Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; dos quais são os pais, e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito, eternamente. Amem” (Rm. 9:3-5). Sendo assim, a mensagem de Jesus era só para os judeus, e o assunto era o Velho Testamento e a história do povo hebreu.
Quando falou: “todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram” (Jo. 10:8), a palavra ovelha designava o rebanho de Deus no Velho Testamento. E quando falava dos ladrões e salteadores, falava dos falsos profetas, falsos sacerdotes, falsos reis e falsos príncipes. Jesus não se referia aos falsos deuses das nações pagãs. Não falava de outras religiões. O que Jesus poderia enquadrar como ladrões e salteadores, foram os sacerdotes, pois recebiam dízimos e ofertas alçadas e viviam como nababos. O dízimo era para manutenção do templo e sustento dos levitas e sacerdotes. Jeová disse: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa” (Ml. 3:10).
Outro que poderia estar enquadrado foi o rei Salomão, que cobrava violentos impostos do povo de Israel. Era tanto, que após a morte do rei, o povo foi pedir a seu filho Roboão que os aliviasse de tão pesado jugo. Eles clamaram assim: “Teu pai agravou nosso jugo; agora, pois, alivia tu a dura servidão de teu pai, e o seu pesado jugo que nos impôs, e nós te serviremos” (I Rs. 12:4). O filho de Salomão, de nome Roboão, tomou conselho errado com os jovens de seu tempo, e recebeu o seguinte conselho, como resposta para o povo: “O meu dedo mínimo é mais grosso do que os lombos de meu pai. Meu pai vos carregou de um jugo pesado, ainda eu aumentarei o vosso jugo. Meu pai vos castigou com açoites, porém eu vos castigarei com escorpiões” (I Rs. 12:10-11). Esse foi o ardil usado por Jeová para dividir o reino em dois. Seriam esses os ladrões e salteadores? É possível que não, pois a mensagem de Jesus Cristo é transcendente. Jesus pregava o desprezo aos bens e riquezas deste mundo (Mt. 6:19-20; 19:16-21).
Ao falar de ladrões e salteadores Jesus se referia ao poder de castrar psiquicamente os homens. O poder de roubar a alma saqueando os atributos inerentes à natureza humana. Por exemplo: Paulo revela que todos os que estão debaixo da lei são escravos: “Dizei-me os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei? Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria; porque estes são os dois concertos; um, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde a Jerusalém, que agora existe, pois é escrava com os seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é a mãe de todos nós” (Gl. 4:21-26). O texto é claro. A lei de Jeová produz escravos, isto é, pessoas que não são donas de si mesmas, isto é, que não são livres, isto é, não tem vontade.
Uma das principais funções de Jesus Cristo foi a de libertar os judeus do jugo da lei de Jeová. Na mesma carta aos Gálatas, Paulo explica: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão. Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. E de novo protesto a todo homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gl. 5:1-4).Jeová, pela lei, castrou e escravizou o seu povo Israel; e Cristo tem o poder de libertá-los desse jugo maligno, restaurando suas potências, memória, entendimento, vontade e livre arbítrio.
Jeová não admitia a iniciativa particular. Tomamos como exemplo os dois filhos de Arão, o sumo sacerdote. Nadabe e Abiú, seus filhos, tomaram cada um o seu incensário, e puseram nele fogo, e puseram incenso sobre ele, e trouxeram fogo estranho perante a face de Jeová, o que não lhes ordenara. Então saiu fogo de diante de Jeová, e os consumiu, e morreram perante Jeová (Lv. 10:1-2). É evidente que Nadabe e Abiú não fizeram aquilo com o objetivo de desrespeitar Jeová, mas para agradar. Descobriram um incenso diferente, e pensaram que isso teria um valor pessoal na sua adoração, mas se enganaram. Jeová obriga a agir mecanicamente. Não havia vida naqueles rituais. É por isso que Jesus disse à mulher samaritana: “Vós adorais o que não sabeis” (Jo. 4:22). Era uma adoração cega. O povo de Israel era cego. E quem o cegou? O próprio Jeová. O profeta Isaías recebeu de Jeová o dom de cegar o povo quando se apresentou para servi-lo. Jeová então lhe disse: “Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e endurece-lhes os ouvidos, e fecha-lhes os olhos; não venha a ele ver com os seus olhos, e a ouvir com os seus ouvidos, e a entender com o seu coração, e a converter-se, e a ser sarado” (Is. 6:9-10). O Velho Testamento é feito de figuras, mas o povo não conhecia nenhuma (I Co. 10:1-6). É cheio de alegorias, isto é, parábolas, mas o povo não conhecia nenhuma (Gl. 4:21-26). Adão é figura, mas nem Israel, e para a vergonha cristã, nem a Igreja sabe de quem é figura (Rm. 5:14). O jardim do Éden é figura. Os quatro rios que regavam o jardim são figuras. Ninguém conhecia nada, nem os sacerdotes, nem os profetas. Todos cegos. “Porque Jeová derramou sobre vós, um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, os profetas; e vendou as vossas cabeças, os videntes. Pelo que toda a visão vos é como as palavras de um livro selado que se dá ao que sabe ler, dizendo: Ora lê isto; ele dirá: Não posso, porque está selado” (Is. 29:10-11). O povo estava tão cego e incapaz, que o Messias veio, mas não o reconheceram, apesar de tantas profecias. O povo, os profetas, os sacerdotes tinham sido reduzidos a um processo de proibições e rituais repetitivos e obrigatórios, que os anularam psiquicamente. Foram feitos escravos. Paulo chamou isto de espírito de escravidão (Rm. 8:15; Gl. 4:21-25). Foram assaltados e roubados no mais precioso que existe no homem: A liberdade de pensar, escolher, julgar e fazer. Quando veio o Messias não o reconheceram, porque um véu espesso fora colocado no seu coração (II Co. 3:15-16). Só Jesus Cristo pode libertá-los desse jugo, e devolver-lhes o dom de pensar e agir livremente. O dom da liberdade (Jo. 8:36).
Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira