(252) – COERÊNCIA – VIII

252 – COERÊNCIA – VIII

 

Paulo disse: “Porque já o mistério da injustiça opera” (II Ts. 2:7). Que é mistério da injustiça? Se é mistério é algo que existe mas ninguém percebe, nem vê. Paulo diz mais: quem detém o mistério da injustiça só será aniquilado quando Jesus voltar; então será revelado o iníquo (II Ts. 2:7-9). Esse iníquo não é Satanás, pois se fosse não seria mistério. Esse iníquo vem segundo a eficácia de Satanás, mas ninguém sabe quem é. Esse mistério está também em Rm. 8:19-23.

Ora, se a justiça de Deus só veio a este mundo através do Cristo encarnado, não havia justiça antes de Cristo. Leiamos alguns textos esclarecedores. Quando Jesus veio da Galiléia ter com João Batista, junto do Jordão, para ser batizado por ele, João se opôs dizendo: “Eu careço ser batizado por ti, e vens tu a mim? Jesus, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convêm cumprir toda a justiça” (Mt. 3:14,15). Toda justiça, disse Jesus. Não havia nada de justiça de Deus Pai até o batismo de Cristo, logo, o batismo é coisa séria. Paulo nos diz: “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fossemos feitos justiça de Deus” (II Co. 5:21). Até o batismo Jesus não conheceu pecado, isto é, até os 30 anos (Hb. 4:15). No batismo Jesus assume nossos pecados, e nós somos perdoados. É por isso que Pedro disse aos primeiros convertidos da Igreja nascente: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados” (At. 2:38). Paulo se converteu no caminho de Damasco (At. 9: 3-6). Após a conversão esteve três dias cego, e só recuperou a vista na hora do batismo (At. 9:8-18). Mais tarde, num discurso em sua defesa, Paulo narra que seus pecados só foram apagados pelo batismo. Se Paulo tivesse sido perdoado na conversão teria sido perdoado três dias antes. O texto diz: “E agora, por que te deténs? Levanta-te e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor Jesus” (At. 22:16). Em Paulo cumpriu-se a justiça de Deus através de Jesus. Ora, se antes de Jesus não havia justiça, Deus não podia declarar que havia, mas Jeová declarou que havia justiça. “Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, vós, povo, em cujo coração está a minha lei” (Is. 51:7). Neste verso, Jeová declarou que a sua justiça estava ligada à lei. No Salmo 119:142, lemos: “A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua lei é a verdade.” Mas a justiça não estava na lei, e nem a verdade. Paulo diz: “Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem” (Rm. 3:21-22). “Concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Rm. 3:28). Em Gl. 3:12 Paulo afirma que a lei não é da fé, logo Jeová errou quando disse que a justiça de Deus vem para os que guardam a lei (Is. 51:7). Paulo faz uma revelação contundente: “Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou a lei da justiça. Por que? Porque não foi pela fé, mas como pelas obras da lei; tropeçaram na pedra de tropeço” (Rm. 9:31-32).

Se a justiça de Deus não estava na lei de Jeová, a lei opera o mistério da injustiça, e o seu mentor também. Vejamos:

1.  Se no reino de Deus habita a justiça (II Pd. 3:13), por que no reino de Jeová havia injustiça? “Filho do homem, dirige o teu rosto contra Jerusalém, e derrama a tua palavra contra os santuários, e profetiza contra a terra de Israel. E dize a terra de Israel: Assim diz Jeová: Eis que sou contra ti, e tirarei a minha espada da bainha, e exterminarei do meio de ti o justo e o ímpio” (Ez. 21:2-3). E Jeová prometeu que jamais faria uma coisa dessas a AbraãoAinda mais que Jeová declara que guarda as almas dos santos (Sl. 97:10; Sl. 37:28, 39-40; Sl. 31:23).

2.  Se o reino de Deus é um reino de justiça, paz, e alegria no Espírito Santo (Rm. 14:17), por que Jeová reinava pela violência (Ez. 20:33)? Fez de Jerusalém uma fornalha de aflição (Is. 31:9; 48:10).

3.  Jesus e o Pai são um, isto é, o que um faz, o outro faz igualmente. E Jesus disse: “E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar” (Jo. 12:47). Ora, se Jesus e o Pai não condenam quem não crê, por que Jeová afiava a espada, e preparava o seu arco com setas inflamadas e mortais? (Sl. 7:12-13).

4.  Se Paulo afirma que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus (Rm. 14:12), “Todos devemos comparecer ante o Tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal” (II Co. 5:10), por que Jeová cobrava nos filhos e nas mulheres o pecado do marido e pai? (Is. 14: 21). Davi pecou, e Jeová matou seu filho (II Sm. 12:14). Cobrou nos filhos o pecado de Saul (I Sm. 28:18-19; 31:2). Fez o mesmo com Jeroboão (I Rs. 15:29). Morreram também os filhos de Acabe, rei de Israel (II Rs. 10:1-7).

5.  Jeová mentiu quando declarou na lei que os filhos não pagam pelos pecados dos pais: “Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos morrerão pelos pais; cada qual morrerá pelo seu próprio pecado” (Dt. 24:16).

6.  Se Jeová deus é a verdade (Jr. 10:10), se a palavra de Jeová é a verdade (Sl. 119:160), se “a verdade de Jeová é para sempre” (Sl. 117:2), se as obras de Jeová são verdade (Sl. 111:7), se Jeová ama a verdade (Sl. 51: 6), se Jeová é o deus da verdade (Sl. 31:5), por que Jeová colocou o espírito de mentira na boca dos profetas? (I Rs. 22:23).

7.  Os homens são responsáveis pelos seus atos, e responderão por eles no juízo final (Ap. 20:11-15; Jo. 5:28-29). Mas como os maus responderão pelo mal, se Jeová os fez maus? Jeová é o oleiro (Jr. 18:6; Is. 64:8). Paulo apóstolo se refere ao assunto: “O oleiro tem poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra. E que direis, se deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para a glória já dantes preparou” (Rm. 9:21-23). Se o oleiro fabricou os perversos, eles não podem responder pelos seus atos, pois são teleguiados. Isso é injusto e incoerente.

8.  Da mesma forma, se Jeová mudou o coração dos egípcios para que odiassem a Israel (Sl. 105:23-25), eles não são culpados; e sendo inocentes foram feridos com as dez pragas, e depois destruídos no Mar Vermelho. O culpado é o autor. O deus prepotente usou os egípcios, vítimas inocentes, para se projetar.

9.  Se Deus, o Pai, ama os pecadores (Rom 8:5-10; I Jo. 4:10), por que Jeová os odiava?  (Am. 9:8; Sl. 78:59; Sl. 106:40; Am. 6:8; Os. 9:15; Jr. 14:11-14, etc.). Mas Deus, o Pai, é amor, e salva todos (I Jo. 4:7-8; I Tm. 4:10).

10. Se quem vê o Filho de Deus, e crê nele, tem a vida eterna (Jo. 6:40), por que quem vê a Jeová morre? (Ex. 33:18-23). E Moisés, que viu Jeová pelas costas, morreu, e não entrou na terra prometida(Dt. 34:1-5). Mas, Deus, o Pai, é coerente.

 

autoria: PASTOR OLAVO SILVEIRA PEREIRA

ABIP – ASSOCIAÇÃO BÍBLICA INTERNACIONAL DE PESQUISA

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