Abraão recebeu duas promessas diferentes: uma material e outra espiritual. Uma terrena e outra celestial, isto é, uma herança terrena e outra celestial. A herança terrena é temporal e a celestial é eterna. A promessa da herança terrena é o concerto com a morte e a promessa da herança celestial é o concerto da vida eterna. Citemos as duas promessas pela Escritura Sagrada:
“Disse Jeová a Abraão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção” (Gn. 12:1-2). “Naquele mesmo dia fez Jeová um concerto com Abraão, dizendo: À tua semente tenho dado esta terra, desde o rio Egito até o grande rio Eufrates; e o queneu, e o quenezeu, e o cadmoneu, e o heteu, e o perizeu, e os refains, e o amorreu, e o cananeu, e o girgaseu, e o jebuseu” (Gn.15:18-21). A herança de Israel incluiu os povos da Terra; povos corruptos e abomináveis. “Porque todas estas abominações fizeram os homens desta terra, que nela estavam antes de vós, e a terra foi contaminada” (Lv.18:19-27). Pois Jeová deixou estes povos na terra de acordo com a promessa feita a Abrão. “Estes pois ficaram para por eles provar a Israel, para saber se dariam ouvidos aos mandamentos de Jeová, que tinha ordenado a seus pais, pelo ministério de Moisés. Habitando, pois, os filhos de Israel no meio dos cananeus, dos heteus, e amorreus, e perizeus, e heveus, e jebuseus, tomaram de suas filhas para si por mulheres, e deram aos filhos deles as suas filhas, e serviram aos seus deuses” (Jz.3:4-6).
A promessa de Cristo é muito diferente da de Jeová, como lemos na carta aos Hebreus: “Porque não chegaste ao monte palpável, aceso em fogo, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao sonido da trombeta, e à voz das palavras, a qual os que a ouviram pediram que se não falasse mais; porque não podiam suportar o que se lhes mandava: Se até um animal tocar o monte, será apedrejado. E tão terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo assombrado, e tremendo. MAS CHEGASTES AO MONTE SIÃO, E À CIDADE DO DEUS VIVO, À JERUSALÉM CELESTIAL, E AOS MUITOS MILHARES DE ANJOS; A UNIVERSAL ASSEMBLÉIA E IGREJA DOS PRIMOGÊNITOS, QUE ESTÃO INSCRITOS NOS CÉUS, E A DEUS, O JUIZ DE TODOS, E AOS ESPÍRITOS DOS JUSTOS APERFEIÇOADOS; E A JESUS, O MEDIADOR DE UMA NOVA ALIANÇA” (Hb.12:18-24).
O mistério da Bíblia e de Jesus consiste em discernir as duas promessas e separar uma da outra, pois até hoje as duas estão juntas e mescladas como o joio no meio do trigo. Comecemos pela descendência de Abraão: “Não que a Palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas: nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é: não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência” (Rm.9:6-8). Os filhos da promessa estão em João 1:12-13 que diz: “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos quais crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus”. Ora, a promessa de Jeová à Abrão foi descendência carnal, mas Deus, o Pai, não gera filhos na carne como Jeová. Gênesis 13:16 diz: “Farei a tua semente como o pó da terra”. Nesta declaração Jeová condena a descendência de Abraão à morte, pois pó, na linguagem bíblica é morte. “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó, e em pó te tornarás” (Gn.3:19). “Me puseste no pó da morte” (Sl.22:15).
A Jerusalém que Jeová deu ao seu povo é terrena, e Paulo afirma que existem duas. “Ora, esta Hagar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde a Jerusalém que agora existe, pois é escrava com os seus filhos, mas a Jerusalém que é de cima é livre” (Gl.4:25-26).
Jeová nunca prometeu uma Jerusalém celestial, mas prometeu restaurar a Jerusalém da Terra, onde ela está, e com habitantes gerados na carne. “E acontecerá naquele dia que farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos; todos os que carregarem contra ela serão despedaçados, e ajuntar-se-ão contra ela todas as nações da terra” (Zc.12:3). “E Jerusalém será habitada outra vez no seu próprio lugar, mesmo em Jerusalém” (Zc.12:6). Este profeta Zacarias viveu no período da restauração do templo após os 70 anos de cativeiro babilônico, 530 anos antes de Cristo. Ageu, profeta contemporâneo de Zacarias profetizou que a glória do segundo templo seria maior que o primeiro. O templo foi profanado e destruído, e até hoje passaram-se 2.500 anos de vergonha. Isaías profetizou de Ciro, o persa, sobre a reconstrução do Templo depois de 70 anos (Is.44:26-28; Ed.1:1-3). Jeová prometeu e não teve poder para cumprir. A promessa de Jesus Cristo diz respeito a ressurreição para a vida eterna, e para habitar num reino que só será visto na sua volta em glória, após o juízo deste mundo.
Vamos, neste estudo, separar as duas promessas pela Bíblia. Diz a Bíblia que Jeová chamou Abraão e lhe fez a promessa de lhe dar Canaã na idade de 75 anos (Gn.12:1-4). E Abraão habitava em Harã. No livro de Atos, Estevão revela que Abraão foi chamado quando ainda estava em Hur dos caldeus (At.7:1-4). Foram dois chamados e duas promessas. Paulo nos revela que a promessa de Cristo foi anterior a de Jeová. “Irmãos, como homem falo: se o testamento de um homem for confirmado, ninguém o anula nem o acrescenta. Ora as promessas foram feitas a Abraão e à sua posteridade. Não diz: E às posteridades, como falando de muitas, mas como de uma só: E a tua posteridade, que é CRISTO. Mas digo isto: Que tendo sido o testamento anteriormente confirmado por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não o invalida de forma a abolir a promessa” (Gl.3:15-17). Quatrocentos e trinta anos mais tarde foi feito o testamento da lei. “Porque, havendo Moisés anunciado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã purpúrea e hissope, e aspergiu o livro e o povo, dizendo: Este é o sangue do testamento que Deus tem mandado” (Heb.9:19 -20).
Segundo Gálatas 3:15-17, o testamento que foi feito 430 anos depois, visava invalidar e abolir a promessa de Jesus, e estabelecer a de Jeová, terrena. Mas o testamento velho de Jeová, foi abolido por Cristo (2 Co.3:14). Entendemos claramente que a promessa de Cristo, com testamento selado, foi feito 430 anos antes do da lei. Este da lei não agradou ao Pai. “Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a Lei) (Heb.10:8).
O testamento da lei foi interferência no plano do Pai e de Jesus. Agora podemos entender duas coisas:
1. “Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se” (Jo.8:56).
2. Abraão rejeitou a promessa de Jeová porque já tinha outra melhor feita por Jesus. “Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que haveria de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia. Pela fé, habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa. Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus” (Hb.11:8-10).
Jeová nunca prometeu a Jerusalém celestial, mas Cristo prometeu antes, e Abraão creu, e não aceitou a da terra, que não tem fundamento. Como Abraão, nós também recebemos duas promessas. Uma no céu e outra na terra, de Jeová. Sejamos discípulos de Abraão, o primeiro crente (Gl.3:9).
Autoria Pastor Olavo S. Pereira