OS DOIS JUIZOS
Quando um criminoso é julgado pelo juiz e condenado a vinte anos de prisão, depois de cumpridos os vinte anos é solto e fica livre; não pode ser julgado e condenado novamente pelo mesmo crime. A condenação à morte é a maior condenação, pois é tirado do culpado o direito à vida. Existem dois tribunais e dois tipos de juízos. O dos homens e o de Deus. O dos homens é relativo às coisas desta vida e deste mundo; e o de Deus envolve as coisas eternas e transcendentes. Os homens condenam à morte um homem que pode não ser condenado por Deus. O apóstolo Tiago, irmão de João foi condenado e morto pelo rei Herodes (At. 12:1-2). A tradição cristã nos informa que o apóstolo Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. A mesma tradição conta que Paulo foi degolado. A história da Igreja, escrita por Eusébio de Cesaréia, narra a história de muitos mártires da Igreja. Todos estes são herdeiros de Deus e vão julgar na eternidade os juizes deste mundo. Os papéis vão se inverter.
O Deus supremo tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio de Jesus Cristo (At. 17:30-31). Quando lemos que vai julgar o mundo, entendemos todos os homens desde o princípio. Paulo nos diz: “E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação” (Rm. 5:16). Como o primeiro que pecou foi Adão, no paraíso, o texto de Paulo coloca debaixo de Jesus, não só a Igreja, mas todos, desde Adão. E Paulo continua ensinando: “Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só – Jesus Cristo” (Rm. 5:17). E Paulo fecha o assunto dizendo: “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm. 5:18). Quando João diz: “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado”, João se refere à condenação proclamada e executada por Jeová em Gênesis, capítulo três. Muitas pessoas pensam que a obra de Cristo começa em Noé, pois os antidiluvianos foram julgados, condenados e mortos por Jeová no dilúvio, mas não é assim. Jesus foi lá, antes do dilúvio, pregar àqueles condenados por Jeová, para tentar salvar alguns. Leiamos o texto de Pedro: “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão, os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca” (I Pd. 3:18-20).
O juízo de Cristo será sobre todos, incluindo os antidiluvianos, pois morreu por eles também, e foi lá pregar o Evangelho. Por isso disse: “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal sairão para a ressurreição da condenação” (Jo. 5:28-29). Quando Jesus e os apóstolos falam em juízo dos vivos e dos mortos, referem-se aos salvos por Cristo e os condenados por Jeová. Ora, em Rm. 5:18 lemos que todos os homens estão condenados, logo estão todos mortos. Assim sendo, os vivos são os que passaram da morte para a vida pela fé em Cristo, como ensina o Evangelho de João: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo. 5:24). Que os cristãos salvos vão ser também julgados, lemos em II Co. 5:10: “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal.”
O problema da condenação e morte dos antidiluvianos esbarra em dois pontos nevrálgicos. Oprimeiro é a condenação injusta, pois não havia lei, e assim os homens não discerniam o certo do errado. “Porque onde não há lei também não há transgressão” (Rm. 4:15). “Porque até a lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei” (Rm. 5:13). Eles não podiam ser mortos pelo dilúvio, pois não eram esclarecidos pela lei, e assim não eram culpados. É por isso que Jó disse:“Porventura consideraste a vereda do século passado, que pisaram os homens iníquos? Eles foram arrebatados antes do seu tempo; sobre o seu fundamento um dilúvio se derramou” (Jó 22:15-16). Foram levados antes do tempo porque não era tempo de juízo, pois o juízo de Deus só acontecerá após o arrebatamento da Igreja e a ressurreição dos vivos e dos mortos.
O segundo ponto nevrálgico que envolve o dilúvio, é que, se Jesus vai julgá-los, e nesse juízo os maus serão condenados, os antidiluvianos serão julgados duas vezes, e condenados duas vezes pelo mesmo crime, o que é injusto. Ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo crime. Os textos bíblicos que falam do juízo dos vivos e dos mortos são: At. 10:40-42; II Tim. 4:1; I Pd. 4:5. O texto que envolve os antidiluvianos segue: “Porque por isto foi pregado o Evangelho também aos mortos, para que, na verdade, fossem julgados segundo os homens na carne, mas vivessem segundo Deus em espírito” (I Pd. 4:6). Por este texto vemos que não só Abel e Enoque serão os salvos entre os antidiluvianos. Haverá outros, especialmente as crianças, das quais Jesus falou: “Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque dos tais é o reino de Deus” (Mt. 19:14).
Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira