(174) – A IMAGEM DE DEUS – IV

  A IMAGEM DE DEUS – IV 

       “E disse deus: Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus; e sobre o gado, e sobre toda a terra. E criou deus o homem a sua imagem; a imagem de deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn. 1:26-27). Como a Bíblia é um livro alegórico e figurado, aceitar as coisas ao pé da letra é perigoso. Deus disse: “Abrirei a minha boca numa parábola; proporei enigmas da antigüidade” (Sl. 78:2). A palavra de Deus, isto é, a Bíblia, está oculta em mistério. Paulo disse: “Falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para a nossa glória” (I Co. 2:7). Paulo revela que Hagar é o monte Sinai e também a Jerusalém da terra, enquanto Sara é a Jerusalém do céu. Ismael simboliza os filhos da carne que são escravos, e Isaque simboliza os espirituais, isto é, nascidos do Espírito Santo, cuja carne foi mortificada. Tudo isto está em Gl. 4:21-31 e Rm. 8:13. Jesus nunca falou literalmente, mas só por parábolas. “Tudo isto disse Jesus por parábolas, e nada lhes falava sem parábolas” (Mt. 13:34).

É claro que a narrativa da criação de Gênesis, capítulo um, está envolvida em mistério, pois a terra não poderia ser criada no terceiro dia e o sol no quarto dia, pois a erva do terceiro dia só vinga com a luz do sol, e está escrito que a terra produziu erva no terceiro dia antes de haver sol (Gn. 1:11-17).

Assim sendo, a narrativa da criação do homem também não é literal. O homem não pode ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, pois só Jesus Cristo é imagem de Deus, e neste caso o homem seria igual a Jesus (Hb. 1:3). O homem é carne e Jesus se fez carne por amor. Mas a teologia, tanto católica Romana como protestante, defendem com unhas e dentes que o capítulo dois de Gênesis, isto é, a história de Adão e Eva, são uma explicação mais extensa e detalhada sobre a criação do homem e da mulher. Supondo que essa é a verdade, e que o Adão dos capítulos dois e três é o primeiro homem criado por Deus, nos deparamos com o primeiro problema. Em Gn. 1:26-27 , Adão e Eva foram na mesma hora criados à imagem e semelhança de Deus. Essa imagem só pode ser espiritual e não física, pois Deus é Espírito (Jo. 4:24), e havendo falha espiritual o homem não é imagem de Deus. Adão caiu por ser espiritualmente defeituoso, logo não poderia ser imagem de Deus. Em Gn. 3:1-6 , Adão e Eva eram espiritualmente cegos, pois não discerniam entre o bem e o mal, e por isso foram seduzidos pela serpente, provando com isso não ser imagem de Deus. De mais a mais, os dons de Deus são sem arrependimento, e o homem não poderia perder a imagem e semelhança, mas perderam, logo esse dom não foi dado por Deus, isto é, o Pai de Jesus Cristo, mas por um outro mais parecido com o homem, isto é, capaz de odiar, perseguir, fazer o mal, guardar ira por séculos, fazer acepção de pessoas e vingar nos inocentes pecados dos pais, etc.

A serpente lhes disse: “No dia em que comerdes da árvore da ciência sereis como deus sabendo o bem e o mal.” Antes de comer não conheciam nem o bem nem o mal, e assim não eram imagem e semelhança de Deus. Pois eram irracionais e irresponsáveis como crianças. Depois que comeram o fruto maldito, os olhos do entendimento, que estavam fechados, se abriram, isto é, discerniram entre o bem e o mal, e coseram aventais para cobrir as vergonhas (Gn. 3:7). O próprio Jeová declarou, dizendo: “Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, Jeová o lançou fora do jardim para lavrar a terra de que fora tomado” (Gn. 3:22-23).

O homem só ficou semelhante a Jeová deus depois que comeu do fruto proibido, pois o próprio Jeová declarou essa verdade. Quando Adão e Eva ficaram semelhantes a Jeová, se tornaram pecadores culpados e foram condenados. É fácil concluir que, se para ficarem semelhantes a deus, Adão e Eva comeram do fruto maligno, e ao comer se tornaram réus de juízo, o deus a quem eles ficaram semelhantes também é réu. Este fato pode ser comparado da seguinte forma: Se um servo, cometendo uma falta digna de punição, fica igual ao patrão, é óbvio que o patrão também cometeu faltas dignas de punição. E esse patrão, ao condenar o servo se fez mil vezes mais culpado.

Pela narrativa bíblica, ser como deus é comer da árvore da ciência, e comer da árvore da ciência é pecado mortal, e cometendo pecado mortal ficaram como deus, esse deus é rei de pecado mortal.

O Evangelho da graça, revelado por Paulo, consiste em deixarmos de ser semelhantes a Jeová pelo pecado consciente, para sermos semelhantes a Jesus Cristo, deixando de pecar, por isso João diz: “E bem sabeis que Jesus se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado. Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu” (I Jo. 3:5-6). E Paulo nos diz:“Quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito do vosso sentido; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef. 4:22-24). O velho homem a quem Paulo se refere é o velho Adão, cuja justiça e santidade não eram verdadeiras antes de pecar.

Também a verdadeira imagem de Deus só vem através de Cristo, logo aquela imagem não era a verdadeira. Paulo continua ensinando. “Mortificai os vossos membros, que estão sobre a terra; a prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; pelas quais coisas vem a ira de Jeová sobre os filhos da desobediência; nas quais também em outro tempo andastes, quando vivíeis nelas. Mas agora despojai-vos também de tudo; da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos, e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl. 3:5-10).

 Autoria: Pastor Olavo Silveira Pereira

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