(132) – OS DOIS EVANGELHOS

O apóstolo Paulo admitia haver mais de um Evangelho, pois disse: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl. 1:8). A pergunta é:

Existirão dois evangelhos? O próprio Paulo revela a existência de dois na mesma carta aos Gálatas: “Quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão” (Gl. 2:7). O evangelho da circuncisão era pregado aos judeus por causa da lei de Jeová e do concerto com Abraão (Gn. 17:13-14). O evangelho da incircuncisão era pregado por Paulo e seus companheiros para os gentios, isto é, os outros povos não judeus.

Os dois grupos não concordavam, e houve discussões pesadas, como veremos: “Então alguns que tinham descido da Judeia ensinavam assim os irmãos: Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos. Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos sobre aquela questão” (At. 15:1-2). Em Jerusalém foram recebidos pelos apóstolos e pelos anciãos, e aconteceu o seguinte: “Alguns, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés. Congregaram-se pois os apóstolos e os anciãos para considerar o assunto. E havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu entre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem; e Deus que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé. Agora, pois, porque tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também” (At. 15:5-11).

Na realidade existem dois povos: os judeus e os gentios; e dois evangelhos: o de Pedro, cujos adeptos guardavam a lei de Moisés e a circuncisão, e o de Paulo, cujos adeptos só adotaram a graça de Cristo na cruz, sem lei de Moisés e sem circuncisão.

Paulo recebeu a revelação do evangelho da graça, coisa que nenhum dos apóstolos recebeu. “Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios; se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada; como me foi este mistério manifestado pela revelação como acima em pouco vos escrevi; pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens” (Ef. 3:1-5).

A revelação de Paulo era tão grande que ele pregava contra a lei de Jeová e contra a circuncisão. Leiamos as palavras de Tiago e dos anciãos em Jerusalém, para Paulo acerca dos novos convertidos: “E já acerca de ti foram informados de que ensinar todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos nem andar segundo a lei de Moisés” (At. 21:21). Quando Paulo entrou no templo, os judeus da Ásia, vendo-o no templo, alvoroçaram todo o povo e lançaram mão dele, clamando: “Varões israelitas, acudi; este é o homem que por todas as partes ensina a todos, contra o povo e contra a lei, e contra este lugar;” (At. 21:28). Ouçamos agora as palavras do próprio Paulo sobre o assunto: “Estai pois firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão. Eis que eu, Paulo, vos digo que se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará: E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós, os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gl. 5:1-4). Pelas palavras de Paulo, quem circuncidasse o filho estava obrigado a guardar toda a lei, e quem guardasse a lei era obrigado a circuncidar o filho. E Paulo afirmava que caía da graça, isto é, caía em condenação. Com estas declarações Paulo está afirmando que o evangelho da circuncisão não salva ninguém, pois a lei não leva ninguém ao Pai, e desgraçadamente é pedra de tropeço. “Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou a lei da justiça. Por que?  Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; tropeçaram na pedra de tropeço” (Rm. 9:30-32). Paulo, na verdade nunca aprovou o evangelho da circuncisão, isto é, o evangelho de Jeová e do Velho Testamento. Falando da nobreza da sua origem israelita e religiosa assim se expressou: “Se algum cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu, circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu, segundo o zelo perseguidor da Igreja, SEGUNDO A JUSTIÇA QUE HÁ NA LEI, IRREPREENSÍVEL. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas as coisas, E AS CONSIDERO COMO ESTERCO, para que possa ganhar a Cristo.” (Fl. 3:4-8). Para Paulo, o evangelho da circuncisão é esterco, pois é remendo novo em pano velho, coisa condenada por Jesus (Mt. 9:14-17). Repreendeu Pedro na cara por causa desse evangelho sem valor, pois não retrata a verdade (Gl. 2:7-14). E a verdade, pela sua palavra é: “Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura” (Gl. 6:15). Sobre a lei de Jeová, disse: “Porque eu pela lei estou morto para a lei, para viver para Deus” (Gl. 2:19). “Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Rm. 6:14). “Mas agora estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de Espírito e não na velhice da letra” (Rm. 7:6). Falando dos dez mandamentos assim se expressou: “Cristo nos fez capazes de ser ministros de um Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito, porque a letra mata, e o Espírito vivifica. E, se o ministério da morte, gravado em pedra, veio em glória, como não será de maior glória o ministério do Espírito” (2 Co. 3:6-8). O Evangelho da circuncisão é também o da lei, e a lei traz com ela as terríveis maldições. “Todos aqueles pois que são das obras da lei estão debaixo de maldição” (Gl. 3:10). Deus nos livre deste evangelho das maldições, da condenação e da morte. O evangelho revelado a Paulo, é o evangelho da graça, que liberta da lei, do Velho concerto, das trevas, da escravidão e da morte, coisas impostas por Jeová; o deus que não perdoa ninguém, pois é mau e vingativo.

Autoria: Pr. Olavo Silveira Pereira

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