Que é que exerce mais força nos atos dos homens? A mente pelo conhecimento do certo e do errado, ou a concupiscência pelo desejo? O apóstolo Paulo, numa frase, deixa claro que a concupiscência tem mais poder nos atos dos homens do que a mente, a razão e a vontade. “Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço” (Rm. 7:15). “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem, porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm. 7:18-19). Paulo era um israelita instruído pelo sábio Gamaliel, um grande pensador, profundo conhecedor das Escrituras (At. 22:3; Fl. 3:5-6). Pois se o maior dos apóstolos, que sabia escolher entre o bem e o mal, discernia entre o certo e o errado, e separava tão bem as obras da carne dos frutos do Espírito, confessa que a concupiscência da carne tinha tanta força no seu comportamento que, querendo praticar o bem, não conseguia, e não querendo praticar o mal, era arrastado contra a vontade ao mal, fica de forma insofismável provado que a concupiscência é mais forte que a mente e a vontade. O poder da concupiscência é tão grande, que Paulo, condenando o mal, o praticava. Pode alguém praticar atos vergonhosos contra sua própria vontade? É o que Paulo afirma em Romanos 7. Paulo esclarece que isto acontecia com ele porque era carnal e vendido sob pecado (Rm. 7:14). A concupiscência é o fruto da carne, e todo carnal está vendido sob o pecado.
A concupiscência independe, portanto, da mente ou da vontade, pois a carne tem vida própria. É por isso que todo homem tem duas vidas, a interior e a exterior, ou, homem interior e homem exterior (Rm. 7:22-23). O interior é o homem espiritual, guiado pela razão, pelo intelecto, pelo entendimento. O exterior é o homem animal, carnal, guiado pelos sentidos e pelo instinto. Pois esse homem exterior de Paulo, tinha supremacia sobre o espiritual e interior, e por isso praticava o mal apesar de desaprová-lo (Rm. 7:24-25). Paulo fez esta confissão terrível, e afirma que com o entendimento servia a lei de Deus, mas com a carne a lei do pecado.
Pobres cristãos, mendigos espirituais, escravos das paixões da carne, e da concupiscência, que apesar de instruídos, apesar de serem batizados com Espírito Santo, apesar de terem sepultado o velho homem no batismo, praticam o mal pelo poder da concupiscência satânica.
Analisemos nossos primeiros pais, Adão e Eva. Em Gn. 2:25 lemos que ambos estavam nus e não se envergonhavam. Que nudez era essa? — Não conheciam nem o bem e nem o mal, e sem a malícia; estavam desprovidos de conhecimento e discernimento. Eram como crianças inocentes. Mas não estavam inteiramente desprovidos. Jeová soprou neles o espírito da concupiscência. Em Gn. 2:7 o sopro de Jeová deus era fedido. A palavra hebraica naquele sopro é fedido. No texto está assim: E SOPROU EM SEUS NARIZES O FÔLEGO DA VIDA. A palavra sopro usada é IPAH — Sopro fedido. Fedido porque foi o sopro da concupiscência, Adão e Eva foram vestidos com a carne (Jó 10:8-11; Gn. 2:21-24). Foi soprada a concupiscência carnal, e eles não conheciam nem o bem e nem o mal, pois eram como crianças. Que chance teriam eles para não cair em pecado? Nenhuma. Adão foi criado para cair. A morte que herdamos de Adão foi planejada e premeditada por Jeová.
É fácil corromper uma criança, pois tem concupiscência, mas não tem entendimento e não discerne entre o bem e o mal, nem o certo do errado. As crianças são guiadas nos seus atos pelo desejo e pela concupiscência, pois não tendo maturidade para rejeitar o mal e escolher o bem, devem ser guiadas e ensinadas pelos pais ou tutores no caminho da retidão, e preservadas do mal até a idade da razão. Adão e Eva eram como crianças, por isso estavam nus, mas carregados de concupiscência, foram entregues nas mãos da serpente (Satanás). Podemos chamar isso de plano diabólico para destruir o homem. Os pobres incautos caíram, foram responsabilizados pela desobediência, expulsos da presença de Jeová, e do Jardim do Éden; proibidos de tocar na árvore da vida; condenados a cultivar uma terra maldita com dor e aflição, e condenados à morte com toda a sua descendência. O caso de Adão e Eva pode ser comparado a de um pai destituído de amor, que larga duas crianças inocentes nas mãos de um facínora corruptor, proíbe comer um fruto apetitoso sem instruí-los e preservá-los do mal até que fossem adultos e maduros. As crianças desobedecem movidas pelo desejo e são condenadas à morte pelo próprio pai, debaixo de maldições e castigos.
O Jardim do Édem era particular de Jeová e por isso, fechado (Gn. 2:8). Jeová gostava de passear no seu jardim (Gn. 3:8). Jeová colocou Adão no seu jardim para o lavrar e guardar (Gn. 2:15). Como poderia Adão guardar o jardim se não discernia entre o bem e o mal? (Gn. 2.:15). Adão era o guarda do jardim, e Jeová era o guarda de Adão como está escrito em Jó 7:20-21.
Jeová permitiu que Satanás, na forma de serpente, despertasse a concupiscência de Eva para comer do fruto proibido, sugerindo que aquele fruto os tornaria mais maduros, a ponto de se tornarem semelhantes a Jeová. Os dois eram cegos, e iludidos pelo destruidor, comeram e caíram em desgraça total. Satã disse: “Jeová sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Jeová sabendo o bem e o mal” (Gn. 3:5).
A pergunta que fazemos é a seguinte: Se o jardim era particular de Jeová, e era fechado para o mal, por que Jeová permitiu que Satanás entrasse e contaminasse o homem? A resposta é: Porque era plano de Jeová e não da serpente, pois Isaías disse: “Ainda antes que houvesse dia eu sou; e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá?” (Is. 43:13). “Porque Jeová deus dos exércitos o determinou; quem pois o invalidará? e a sua mão estendida está, quem pois a fará voltar atrás?” (Is. 14:27). Após o pecado de Adão e Eva, Jeová castigou a serpente, mas não a impediu de entrar na sua casa, isto é no jardim? (Gn. 3:14).
Porque era exatamente o que Jeová queria. Era este o seu plano, e permanece até hoje. De uma coisa todos podemos ter certeza. “A concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, e a soberba da vida, não é do pai” (1 Jo. 2:16). Se não vêm do Pai, e Adão e Eva tinham esse três defeitos, não foi o Pai quem os fez assim, mas Jeová: “Vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, (concupiscência da carne), e agradável aos olhos (concupiscência dos olhos), e árvore desejável para dar entendimento(soberba da vida), tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela” (Gn. 3:6).
Autoria: Pr. Olavo Silveira Pereira