(120) – NOÉ

         “Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é: oito) almas se salvaram pela água; que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo” (1  Pd. 3:20-21). Este texto revela que no episódio do dilúvio houve figura, sendo assim, Noé também é uma figura.

Todos entendem que Noé tipificava a Jesus Cristo, isto é, era a figura de Jesus, baseados em Mt. 24:37. Quando Jesus disse: “E como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do filho do homem”, a figura não casa, pois o salvador Noé se salvou e toda a humanidade morreu, e no caso de Jesus, metade dos condenados serão salvos. “Estando dois no campo, será levado um, e deixado outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma e deixada outra” (Mt. 24:40-41).

Comparemos, portanto, os dois acontecimentos, para saber com clareza se Noé foi figura de Jesus, ou de outro personagem bíblico.

1.     Noé pregou a justiça da condenação, enquanto Jesus se fez condenar em lugar dos condenados. A respeito de Noé; Pedro declarou: “Jeová não perdoou o mundo antigo, mas guardou a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios” (2 Pd. 2:5). Sobre o sacrifício de Cristo, Paulo disse: “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co. 5:21). Este texto está explicando que Jesus assumiu os pecados dos homens, e em lugar deles morreu, para os tornar justos diante de Deus. A justiça de Noé não é figura da justiça de Cristo, pois são opostas.

2.     A graça de Jeová era só para o justo Noé, pois Jeová falou: “Entra tu e toda a tua casa na arca, por que te hei visto justo diante de mim nesta geração” (Gn. 7:1). “Noé porém achou graça aos olhos de Jeová” (Gn. 6:8).  A graça de Jesus não é para os justos, mas para os pecadores, perdidos e condenados. Paulo declarou: “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores dos quais eu sou o principal” (1 Tm. 1:15). E o próprio Senhor Jesus revelou a sua missão, dizendo: “Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento” (Mt. 9:13). Fica, portanto, provado, que a graça do Pai é para todos, enquanto a graça de Jeová era só para os justos. “Porque a graça do Pai se há manifestado trazendo salvação a todos os homens” (Tt. 2:11). A graça de Jeová era para os justos, e para os pecadores: desgraça. “Jeová guarda a todos os que o amam, mas todos os ímpios serão destruídos” (Sl. 145:20). (Só que não guardou nem Davi, nem Salomão).

3.     Noé, autorizado por Jeová, condenou o mundo todo à morte pelo dilúvio. Lemos isso em Hb. 11:7. Jesus, ao contrário, não condenou a ninguém. “Porque Deus enviou seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas que o mundo fosse salvo por ele” (Jo. 3:17). Ora, se o ministério de Noé foi o da condenação e o de Cristo não foi da condenação, Noé foi figura de outro, mas nunca de Jesus. O apóstolo Paulo deixa bem claro o assunto na carta aos Romanos: “Pois assim como por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para a condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação da vida” (Rm. 5:18). A condenação a que Paulo faz referência foi a do dilúvio universal. Noé não é, portanto, figura de Jesus Cristo.

4.     Noé preparou uma arca para ser salvo da morte com sua família (Gn. 6:13-14; 7:1).  Jesus só pôde preparar a sua igreja morrendo ele e sua família (seus discípulos)! “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e si mesmo se entregou por ela” (Ef. 5:25). “Disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos. Ele, porém, respondendo, disse: Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos? E, estendendo a sua mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos” (Mt. 12:47-49). – Seus discípulos foram todos mártires para que a igreja vingasse em meio as perseguições. Noé e a sua arca não são figura de Jesus e a sua igreja.

5.     Conforme o desígnio de Jeová, Noé e sua família  entraram na arca, e também os animais e as bestas, e Jeová fechou a porta por fora para que ninguém se salvasse (Gn. 7:16). Após a morte de Jesus e pelo sacrifício dos apóstolos, a porta da igreja se abriu para todas as gentes. A chave que abriu esta porta universal de salvação é a cruz. Definitivamente fica provado que a arca de Noé não é figura da igreja, assim como o próprio Noé não é figura de Jesus. É óbvio, entretanto, que Noé é figura de um outro salvador que deveria ter vindo e não veio, mas é esperado por muitos.

6.     Houve, no dilúvio, um batismo, e todos os que foram batizados, isto é, foram imergidos nas águas do dilúvio (pois batismo quer dizer imersão), morreram fisicamente. No batismo de Jeová, a forma de liquidar o pecado era matar os pecadores. Leiamos o texto de Pedro: “Os quais, noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucas (isto é: oito) almas se salvaram pela água” (1 Pd. 3:20). Os oito que não foram imergidos se salvaram. No batismo de Cristo, os que são imergidos serão salvos. “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc. 16:16). Continuando o texto de Pedro lemos: “Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo” (1 Pd. 3:21). Os objetivos dos dois batismos são diferentes. No de Jeová as almas foram mortas para serem despojadas da imundícia da carne; no batismo de Jesus, as almas adquirem uma consciência pura, para não pecar mais, e Cristo é morto no lugar dos imundos. Se os dois batismos são tão diferentes quanto ao fim, porque está escrito em 1 Pd. 3:21 que o de Noé é figura do de Cristo? O problema é que a tradução não corresponde ao original grego. Vejamos a tradução correta conforme o comentário de Russel Norman Champlin: “Que também agora, por uma verdadeira figura o batismo vos salva, o qual não é o despojamento da imundícia da carne, mas …” não é, portanto, o batismo de Noé figura do de Cristo, mas o batismo de Jesus Cristo é uma figura de salvação, pois o batismo adquire uma consciência pura, em lugar da anterior e imunda.

7.     Noé foi figura de alguém que deveria condenar este mundo, coisa que Jesus não fez, logo era esperado um e veio outro melhor.

 

Autoria: Pr. Olavo Silveira Pereira

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