“Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm. 11:29). Esta declaração de Paulo revela um detalhe do caráter de Deus Pai. O que Deus dá não tira mais, pois é dado para sempre. Citamos como exemplo a maior dádiva: “Porque Deus amou o de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3:16). E Deus Pai deu o seu Filho pelos perdidos e pecadores. “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm. 5:8). Na cruz de Cristo, Deus decretou a graça total e universal. “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt. 2:11). Está tudo consumado, e Deus não volta atrás, porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento. Deus não se arrepende, pois é onisciente, onipresente e onipotente. Tudo quanto Deus faz é perfeito e absoluto. “Toda a boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg. 1:17). Jesus, o Filho de Deus, “é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb. 13:8). E Jesus é igual ao Pai; e disse: “ Quem me vê a mim, vê ao Pai” (Jo. 14:9). “ Eu e o Pai somos um” (Jo. 10:30). Se Deus se arrependesse estaria confessando que errou, e Deus não erra. É por isso que a graça de Deus (dom de Deus) é superior ao pecado. “Onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm. 5:20).
No Velho Testamento as coisas eram diferentes. Os dons e a vocação de Jeová eram com arrependimento. Foi Jeová que escolheu Saul para ser rei em Israel. Jeová disse ao profeta Samuel: “Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por capitão sobre o meu povo Israel” (1 Sm. 9:16). “Então tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e o beijou, e disse: porventura te não tem ungido Jeová por capitão sobre sua herdade?” (1 Sm. 10:1). E Samuel enviou Saul a um rancho de profetas, e lá o espírito de Jeová se apoderou de Saul, e profetizou (1 Sm. 10:10).
Depois que Saul tomou posse do reino, desobedeceu a Jeová (1 Sm. 15). Como consequência, Jeová declara que se arrependeu de haver posto Saul como rei sobre Israel (1 Sm. 15:14). Rejeitou Saul como rei, e colocou Davi no seu lugar, e para completar a obra, tirou o bom espírito de Saul, e o encheu de um espírito maligno (1 Sm. 16:1; 16:3-15). Fica assim provado que Jeová é um Deus que se arrepende do que fez, isto é, não é onisciente nem onipresente, pois se fosse, saberia o futuro, e não precisaria confessar que errou. Jeová também tirou a vocação e o dom do espírito que estava sobre Saul, e assim os dons e a vocação de Jeová são com arrependimento, contrariando Rm. 11:29, que se refere ao Deus Pai de Jesus.
Jeová escolheu Salomão desde o ventre, e o amou (2 Sm. 12:24). Muito antes do adultério de Davi e do nascimento de Salomão, Jeová profetizou o seu nascimento. “Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti a tua semente, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre – Eu lhe serei por pai e ele me será por filho” (2 Sm. 7:12-14). Davi declara que, entre todos os seus filhos, Salomão foi o escolhido por Jeová. “De todos os meus filhos, porque muitos filhos me deu Jeová, escolheu ele o meu filho Salomão para se assentar no trono do reino de Jeová sobre Israel, e me disse: Teu filho Salomão edificará a minha casa e os meus átrios, porque o escolhi para filho” (1 Cr. 28:5-6). O nome de Salomão foi escolhido por Jeová (1 Cr. 22:9). Para que Salomão realizasse toda a obra sonhada por Jeová, este lhe deu sabedoria divina (1 Rs. 3:12). Pois bem, Salomão, o amado, escolhido, e pretendido por Jeová, foi um rei carnal e lúbrico, pois teve setecentas mulheres e trezentas amantes, todas elas tomadas dos povos que Jeová havia proibido tomar (1 Rs. 11:1-3). Salomão, pela paixão carnal, e seduzido pelas mulheres se tornou um idólatra abominável (1 Rs. 11:5-8). Além de tudo isso, Salomão oprimiu o povo para enriquecer (1 Rs. 12:3-4). Salomão foi um rei cruel (1 Rs. 12:11). Em consequência, Jeová rasgou o reino de Israel em dois (1 Rs. 11:11).
Qualquer leitor do Velho Testamento vai pensar: Jeová errou na escolha. Deu o reino na mão de Salomão e depois dividiu o reino como castigo dos seus desmandos. Jeová não é onisciente nem onipresente. O desmoralizado não foi Salomão, mas Jeová, que comete erros irreparáveis. Um deus que dá e depois tira, que escolhe e depois rejeita, que tira o seu espírito dos seus ungidos, e coloca em seu lugar espíritos malignos.
Jeová é o deus que muda conforme os homens, por isso se arrepende. Em 1 Sm. 15:29 lemos que não é homem para que se arrependa. Em 1 Sm. 15:35 lemos que se arrependeu de ter posto Saul como rei.
Jeová prometera com juramento a Abraão abençoar e multiplicar o povo de Israel. Este povo pecou ao pé do Monte Sinai, e Jeová, cheio de furor, decidiu consumi-los e mudar a promessa para a descendência de Moisés. Este, porém, se opôs aos novos planos de Jeová com tal determinação, exigindo, inclusive, que Jeová se arrependesse de tão grande mal. Jeová então se arrepende e volta atrás, persuadido por um homem (Ex. 32:1-14).
Em outra ocasião, quando os espias infamaram a terra prometida, Jeová novamente decide exterminá-los. Moisés se opõe ao plano homicida novamente, e usa os mesmos argumentos da primeira vez. Jeová volta atrás (Nm. 14:1-20). Jeová não tinha um propósito definido; Moisés tinha. Moisés amava o povo. Jeová se arrependia tantas vezes, que fez a seguinte declaração ao seu povo: “Tu me deixaste, diz Jeová, voltas para traz; por isso estenderei a minha mão contra ti, e te destruirei; estou cansado de me arrepender” (Jr. 15:6).
Jeová confessa que pratica o mal e depois se arrepende. Em 2 Sm. 24:15-16 Jeová confessa que, quando uma nação não anda conforme a sua palavra, fica imaginando e forjando males. Se a nação se converter, ele se arrepende do mal que pensava em fazer (Jr. 18:7-10). Jeová fez o mal a Israel e depois confessou dizendo: “Estou arrependido do mal que vos tenho feito” (Jr. 42:10).
Para encerrar o assunto, Jeová salvou seu povo do Egito, depois se arrependeu de os ter salvo e os matou (Jd. 5; Nm. 14:28-30). Jeová ordena a bênção e depois, não só tira a bênção, como amaldiçoa a bênção dada. “Se não propuserdes no vosso coração dar honra ao meu nome, diz Jeová dos exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas bênçãos; e já as tenho amaldiçoado. Eis que vos corromperei a semente, e espalharei esterco sobre os vossos rostos.” (Ml. 2:2,3). E basta. Nada em Jeová é seguro a não ser maldição.
Autoria: Pr. Olavo Silveira Pereira