Passadas nove terríveis pragas sobre a terra do Egito, assolando, destruindo e matando, Jeová anuncia a Moisés a última: “Eu passarei pela terra do Egito esta noite, e ferirei a todo o primogênito na terra do Egito, desde os homens até os animais; e sobre todos os deuses do Egito farei juízos: Eu sou Jeová” (Ex. 12:12). O furor de Jeová era tanto que não escaparam nem os inocentes animais, como bois, carneiros, cães, cavalos, camelos etc. Cabe uma pergunta: Por que Jeová se sentiu glorificado em matar os primogênitos do Egito? Por que Jeová exultou de alegria com essa praga mortal? Analisemos o início da história. Após a morte de José e do Faraó que o favoreceu, levantou-se outro Faraó; porém perverso. E como os filhos de Israel se multiplicaram muito, e Faraó deu ordem para o povo matar todas as crianças do sexo masculino, lançando-as no rio (Ex. 1:7-9, 22), Moisés foi a única criança que escapou da matança, e acabou como príncipe do Egito, pela intervenção milagrosa de Jeová. Este deus vingativo arquitetou um plano para se vingar dos egípcios. Segundo a lei de Jeová, era olho por olho e vida por vida. As nove primeiras pragas foram apenas uma preparação. Quando Moisés produzia as terríveis e infernais pragas, o coração de Faraó amolecia, mas Jeová endurecia o seu coração. Mesmo que Faraó quisesse mudar, Jeová não deixava, até que se cumprisse o seu plano. Houve momentos de humilhação, confissão de pecados: “Então Faraó se apressou a chamar a Moisés e a Arão, e disse: Pequei contra Jeová vosso deus, e contra vós. Agora, pois, peço-vos que perdoeis o meu pecado somente desta vez, e que oreis a Jeová vosso deus que tire de mim somente esta morte. E saiu da presença de Faraó, e orou a Jeová. Então Jeová trouxe um vento oriental fortíssimo, o qual levantou os gafanhotos e os lançou no mar vermelho; nem ainda um gafanhoto ficou em todos os termos do Egito. JEOVÁ, POREM, ENDURECEU O CORAÇÃO DE FARAÓ, E ESTE NÃO DEIXOU IR OS FILHOS DE ISRAEL” (Ex. 10:16-20).
O vingador é cruel e não admite arrependimento nem retratação, pois a fome de vingança cega. O juízo de Deus é impessoal, mas a vingança de Jeová é pessoal. É o orgulho ferido que multiplica o mal. É o amor exagerado ao próprio ego que faz nascer o ímpeto da vingança, que não visa absolutamente punir o ofensor, mas injuriá-lo, fazendo-o sofrer angústias insuportáveis. Matando os primogênitos do Egito, Jeová queria fazer os pais sofrerem, a ponto do tormento; pois eles tinham matado o primogênito de Jeová. “Então dirás a Faraó: Assim diz Jeová: Israel é meu filho, meu primogênito. E eu te tenho dito: Deixa ir o meu povo, para que me sirva; mas tu recusaste deixa-lo ir; E EIS QUE EU MATAREI O TEU FILHO, O TEU PRIMOGÊNITO” (Ex. 4:22-23). A vingança se consumou na décima praga, e houve grande clamor em todo Egito, pois não havia casa em que não houvesse um morto (Ex. 12:30). Milhares de criancinhas inocentes, vítimas da vingança de um deus furioso. “JEOVÁ É UM DEUS ZELOSO E QUE TOMA VINGANÇA; JEOVÁ TOMA VINGANÇA E É CHEIO DE FUROR; JEOVÁ TOMA VINGANÇA CONTRA OS SEUS ADVERSÁRIOS, E GUARDA IRA CONTRA OS SEUS INIMIGOS” (Na. 1:2). Jeová matou as crianças como inimigas? Milhares de criancinhas inocentes pelas quais Jesus Cristo morreu na cruz. Faraó matou as crianças, mas Faraó era homem. Um deus que se preocupa, não em eliminar o mal, mas em aumentá-lo, peca contra a divindade própria.
Faraó, ferido e cheio de furor, para vingar a morte dos primogênitos, reúne seus exércitos e parte atrás do povo de Israel para dizimá-lo. Lá, em pleno Mar Vermelho, Jeová dá cumprimento ao plano traçado desde o início, matando Faraó e seus cavaleiros (Ex. 15:1-10). Jeová, então, cantou um cântico de vitória. “EIS QUE ENDURECEREI O CORAÇÃO DOS EGÍPCIOS, PARA QUE ENTREM NO MAR ATRÁS DELES; E EU SEREI GLORIFICADO EM FARAÓ, E EM TODO O SEU EXÉRCITO” (Ex. 14:17).
O caráter vingativo e injusto de Jeová é uma constante na história bíblica. Em lugar de Roboão, filho de Salomão, reinou Jeroboão, filho de Nebate. Este rei, para que o povo não subisse a Jerusalém a adorar Jeová, fez dois bezerros de ouro e os colocou em Betel e em Dã. E disse ao povo: “Este são os teus deuses, ó Israel”. Também instituiu sacerdotes para ministrar. Este pecado excitou o furor de Jeová, que para se vingar, destruiu toda a sua descendência. Na vingança de Jeová, os justos pagam pelo pecador (1 Rs. 12:26-31; 15:27-29).
Por incrível que pareça, Baasa, depois de destruir a casa de Jeroboão, cometeu os mesmos pecados, e caiu assim na desgraça de Jeová, que vingou o seu pecado destruindo toda a sua descendência (1 Rs. 15:33-34; 16:9-13).
Acabe foi um rei cruel, idólatra e perverso. Jesabel, sua mulher, o incitava na prática do mal. Elias comparece diante do maligno rei e lhe declara o futuro. “Eis que trarei mal sobre ti e arrancarei a tua posteridade, e arrancarei de Acabe a todo o homem, como também o encerrado e desamparado em Israel, e farei a tua casa como a casa de Jeroboão, filho de Nebate” (1 Rs. 21:21-22). O cumprimento desta vingança se acha em 2 Rs. 10:1-7. Acabe tinha setenta filhos que foram injustamente mortos. A vingança cega a justiça e anula a piedade.
Saul desobedeceu a Jeová não matando Agague, o rei dos amalequitas (1 Sm. 15:1-9). Por vingança, Jeová matou a Saul e três de seus filhos, conforme a profecia de uma feiticeira (1 Sm. 28:18-19; 31:1-2). Mas como a vingança nunca satisfaz quem nutre ódio por outro, depois de trinta anos da morte de Saul, Jeová ainda sentia desejos de vingança. Era Davi o rei, e já velho. Houve uma fome três anos seguidos. Davi, preocupado, perguntou a Jeová o motivo. Este lhe respondeu: É por causa de Saul e da sua casa sanguinária que matou os gibeonitas. Davi, querendo ser justo, chamou os gibeonitas para saber a história. Eles lhe contaram seus suplícios nas mãos do falecido Saul, e fizeram ao rei um pedido: Dêem-nos sete filhos de Saul para que os enforquemos a Jeová, e nós estaremos vingados de Saul. O rei Davi mandou buscar sete filhos do defunto e os entregou aos gibeonitas, que os enforcaram em Gibeá de Saul. No final deste trecho ficamos petrificados ao ler: “E DEPOIS DISTO JEOVÁ SE APLACOU PARA COM A TERRA” (2 Sm. 21:1-14).
Ao terminar este triste capítulo da história de Jeová deus, lembramos que ele cegou seu povo, tampou os ouvidos e lhes deu um coração de pedra para que não fossem fiéis (Is. 6:10). Para se garantir e poder condenar o povo, derramou um espírito de sono nos profetas, afim de não orientarem o povo (Is. 29:11). O povo endurecido se corrompeu. Então Jeová executou a vingança implacável do concerto (Lv. 26:14-25).
Autoria: Pr. Olavo Silveira Pereira