Que é um tutor? É a pessoa responsável, legalmente constituída para tutelar alguém, em geral menores de idade ou irresponsáveis. A diferença entre o tutor e o tutelado é enorme. Na ausência do pai, o tutor, se quiser, pode corromper a criança por interesse, pois o tutor não é o pai.
O aio é o preceptor de meninos, como as aias são preceptoras de meninas, e preceptor é aquele que dá preceitos e instruções. É o mestre, o mentor das crianças. Curador é aquele que, por decisão judicial, administra os bens e dirige pessoas não habilitadas, isto é, menores de idade ou loucos, débeis mentais, etc.
Israel, no início da sua história, era criança aos olhos de Jeová — “Quando Israel era menino, eu o amei” (Os. 11:1). Paulo, apóstolo, confirma que Israel era menino — “Digo, pois, que todo o tempo que o herdeiro é menino em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo; mas está debaixo de tutores e curadores até o tempo determinado pelo Pai” (Gl. 4:1-2).
Quem foram os tutores e curadores de Israel? Israel era a vinha de Jeová — “Porque a vinha de Jeová dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias” (Is. 5:7). O sacerdócio levítico, estabelecido por Jeová, não poderia compor os tutores ou curadores, pois eram iguais ao povo, sendo da mesma massa e cometendo os mesmos pecados — “Porque tanto o profeta, como o sacerdote, estão contaminados; até na minha casa achei a sua maldade, diz Jeová” (Jr. 23:11). Os profetas e sacerdotes não eram melhores que o povo, e os tutores ou curadores têm de ser superiores aos tutelados. Os tutores e curadores não podiam ser homens, pois Jeová disse: “Jeová olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia alguém que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um” (Sl. 14:2-3). Nenhum homem pode ser tutor ou curador de outro homem, seu igual. Se os tutores de Israel fossem os sacerdotes ou os reis, Jeová estaria condenando o seu povo a perdição, pois “um cego, guiando a outro cego, ambos cairão no abismo” (Mt. 15:14). Por outro lado, Jeová estaria fazendo uma distinção violenta e injusta, pois no Novo Testamento, o tutor dos filhos de Deus é o Espírito Santo. É o Espírito Santo quem ensina todas as coisas (Jo. 14:26). Põe as palavras na boca dos crentes neófitos (Mt. 10:19-20). O Espírito Santo guia (Rm. 8:14; Jo. 16:13). O tutor, na ausência do pai, estabelece padrões de comportamento, isto é, leis apropriadas para instrução do tutelado. Foi o Espírito Santo que deu os novos mandamentos do Novo Testamento (At. 1:2).
Lá, No Velho Testamento, quem ensinava era o próprio Jeová, e não o Espírito Santo; e quem punha as palavras na boca era Jeová. “Disse Jeová a Moisés: Quem fez a boca do homem? Ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, Jeová? Vai pois agora, e eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar” (Ex. 4:11-12). “Então disse Jeová a Moisés: Sobe a mim no monte e fica lá; e dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei, e os mandamentos que tenho escrito, para os ensinar”(Ex. 24:12). “A ti te foi mostrado para que soubesses que Jeová é deus. Desde os céus te fez ouvir a sua voz, para te ensinar” (Dt. 4:35-36). “Assim diz Jeová, o teu redentor, o santo de Israel: Eu sou Jeová, o teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar” (Is. 48:17). Jeová era o guia de Israel: “Assim só Jeová o guiou, e não havia com ele deus estranho” (Dt. 32:12). “E os guiaste de dia por uma coluna de nuvem, e de noite por uma coluna de fogo, para os alumiares no caminho por onde haviam de ir” (Ne. 9:12).“Amarás pois a Jeová teu deus, e guardarás os seus preceitos, e os seus estatutos, e os seus juízos, e os seus mandamentos, todos os dias. E hoje sabereis que falo, não com vossos filhos, que o não sabem, e não viram a instrução de Jeová vosso Deus, a sua grandeza, a sua mão forte, e o seu braço estendido” (Dt. 11:1-2).
Tudo o que no Novo Testamento é feito pelo Espírito Santo, no Velho Testamento foi feito por Jeová. Ora, o Espírito Santo procede do Pai; o Pai não iria fazer pessoalmente obra inferior a do Espírito Santo. A lei e os preceitos de Jeová não aperfeiçoaram (Hb. 7:19). E por isso foi abrogada, isto é, anulada por ser inútil (Hb. 7:18). Foi mudada a lei e foi mudado o sacerdócio (Hb. 7:12). Foi mudado o testamento (Hb. 9:15), pois o Velho Testamento foi abolido por ser transitório (2 Co. 3:13-14).
O apóstolo Paulo revela que os israelitas estavam nas mãos de tutores e curadores até a vinda de Jesus Cristo, mas era Jeová o tutor, e o tutor não é o Pai (Gl.4:1-3). E o que agrava a atuação de Jeová, é que com todos os preceitos, mandamentos, juízos e estatutos, o povo estava reduzido à servidão e debaixo dos primeiros rudimentos do mundo. Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, teria forçosamente de dizer que Israel estava debaixo dos cuidados do Pai, e não debaixo de tutores. O tutor jamais cuidará tão bem quanto o pai. Mas foi Jeová que guiou e ensinou o povo, logo foi tutor, e assim, não é nem o Pai e nem Jesus, mas um mau tutor, pois o povo se corrompeu e se perdeu, pois só o remanescente será salvo (Rm. 9:27).
Sendo Jeová tutor, e não o próprio Pai, nem o Filho, só poderia ser anjo. Vejamos a declaração de Estevão: “Este é aquele Moisés que disse aos filhos de Israel: O Senhor vosso Deus vos levantará entre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis. Este é o que esteve entre a congregação no deserto, COM O ANJO QUE LHE FALAVA NO MONTE SINAI” (At. 7:37-38). Esta declaração de Estevão se refere a Ex. 19:19, onde se lê: “Moisés falava, e Deus lhe respondia em vós alta.”
Como o Pai estabeleceu o tempo para enviar ao mundo o seu Filho unigênito, e ninguém vai ao Pai a não ser através de Jesus, o tutor que veio antes, fez-se passar pelo Pai, enganando o povo (Gl. 4:1-4; Jo. 14:6).
Autoria: Pr. Olavo Silveira Pereira