Existiu um anjo soberbo e altivo, que se exaltou a si mesmo a ponto de pretender ser igual ao Deus altíssimo, criador de tudo e que habita na luz inacessível. O profeta Isaías revela as pretensões desse anjo com as seguintes palavras: “tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, da banda dos lados do norte. Subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Is. 14:13-14).
A cristandade, em geral, crê que esse anjo presunçoso é Satanás. Essa tradição não é convincente, pois Satanás quer dizer adversário, e o Deus altíssimo é a favor de todos, como diz Paulo: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm. 8:31). Deus ama os pecadores: “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm. 5:8).
A obra de Satanás sempre foi perversa desde o início: “Quem comete pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio” (1 Jo. 3:8). Ora, se o Diabo sempre pecou, nunca fez nada parecido com Deus; nada semelhante a Deus. Semelhante é análogo; parecido; conforme, etc. Deus não peca e o diabo peca desde o princípio, logo não são semelhantes. João nos dá outra pista: “Vós tendes por pai o diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (Jo. 8:44).
Este texto, proferido pelo próprio Jesus esclarece o assunto:
1. Quem mente se torna filho do diabo, porque se faz semelhante a ele. Ora, o Pai é a verdade e o diabo é mentiroso desde o princípio, logo, o diabo nunca pretendeu ser semelhante ao Deus Pai.
2. O diabo sempre foi homicida e nunca mudou, e assim não quis ser semelhante a Deus.
3. O diabo é acusador e sempre acusou e enganou (Ap. 12:9). O diabo poderia pretender, como adversário, destruir ou vencer a Deus, para assentar-se no seu trono, mas o texto de Isaías é claro: “SEREI SEMELHANTE AO ALTÍSSIMO” (Is. 14:14).
De quem falava Isaías na sua profecia? Jesus veio a este mundo para revelar o Deus Pai. “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai: e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o filho o quiser revelar” (Mt. 11:27). “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo. 17:3). “Eu lhes fiz conhecer o teu nome” (Jo. 17:26).
O apóstolo Paulo afirmou que antes de Jesus e da Igreja, nenhum anjo jamais conheceu a multiforme sabedoria de Deus. “A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do Evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou, para que agora, pela Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef. 3:8-10).
Jeová incumbiu Moisés de fazer conhecido o seu nome (Ex. 3:15). Sendo Jesus o único que revela o Pai e o nome do Pai, Moisés foi enganado. Jesus declarou: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo. 14:6). Mas os israelitas foram a Jeová através de Moisés. Não há dois caminhos e dois mediadores (1 Tm. 2:3-5). Quando Paulo diz: “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens”, está revelando que o Deus que Moisés revelou não é verdadeiro, pois se Moisés revelou um, e mil e seiscentos anos depois Jesus revelou outro, com obras diferentes, existiriam dois Deuses. Paulo, porém, nega o Deus de Moisés, quando diz: “Porque há um só Deus e um só mediador” (1 Tm. 2:5).
Quando Jesus disse: “Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho”, exclui os anjos desse conhecimento. Jeová, entretanto, faz conhecidos seus planos e projetos através de Moisés. “Fez notórios os seus caminhos a Moisés, e os seus feitos aos filhos de Israel” (Sl. 103:7). Qual o plano e quais os caminhos? O projeto de Jeová era dar para os descendentes de Abraão a terra de Canaã eternamente (Gn. 13:14-15; 17: 8). E nesse projeto ninguém herdaria junto em igualdade de condições. No projeto de Jeová, os estrangeiros seriam servos. “E haverá estrangeiros que apascentarão os vossos rebanhos; e estranhos serão os vossos lavradores, e os vossos vinheiros. Mas vós sereis chamados sacerdotes de Jeová, e vos chamarão ministros de nosso Deus; comereis a abundância das nações” (Is. 61:5-6).
O plano de Deus Pai de Jesus é outro. A herança não é da terra (Jo 14:1-4), tanto judeus como gentios são chamados para o reino de Deus através de Jesus. “Concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei. É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios certamente. Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão” (Rm. 3:28-30).
No plano de Jeová, Canaã foi tomada com violência pela guerra e pela espada. “Não houve cidade que fizesse paz com os filhos de Israel senão os heveus; por guerra a tomaram todas, porquanto de Jeová vinha, que os seus corações endurecessem, para saírem ao encontro de Israel na guerra, para as destruir totalmente e sem piedade, como Jeová tinha ordenado a Moisés” (Js. 11:19-20). No plano do Pai, Cristo uniu todos em paz, pela cruz. “E que, havendo por ele feito a paz, pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Cl. 1:20).
No projeto de Jeová, os que entraram na posse da herança foram mais tarde para o cativeiro sob maldição. No plano de Cristo, os que entram não saem mais, pois os dons de Deus são sem arrependimento, não como os de Jeová (Rm. 11:29). Na restauração de Israel, a herança seria hereditária, pois haverá morte (Ez. 37:21-25; Jl. 3:20; Am. 9:15; Is. 65:7-25). No reino dos céus a herança é eterna, pois Cristo confere a vida eterna. “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (Jo 3:36).
Os dois planos para o homem são tão diferentes, que o de Jeová não cabe como figura do de Cristo. O que parece é que Jeová ignorava o plano de Cristo e elaborou um projeto no plano terreno, uma sombra, isto é, algo que não tem definição clara, uma obra com o objetivo de se assemelhar com a de Cristo, mas diferente, pois o plano do Pai estava oculto em mistério até o tempo de Paulo (Ef. 3:1-10).
Autoria: Pr. Olavo Silveira Pereira