Eleição pressupõe acepção e discriminação. Não estamos falando de eleições para deputados e governadores, mas da eleição como preferência. É Deus escolhendo e não o homem. Por exemplo: Abraão teve dois filhos, Ismael e Isaque, no entanto, Ismael foi rejeitado e Isaque eleito, isto é, escolhido por Deus (Gn.21:1-13). Diz o texto que Ismael zombava de Isaque. E por que? Porque Isaque, o eleito de Jeová, ficou com a bênção, sendo Ismael o primogênito. É óbvio que Ismael se sentiu discriminado e desprezado.
Em geral, a eleição discrimina e promove a injustiça, pois tendo Abraão oito filhos ao todo, deu toda a herança a Isaque, seu preferido e eleito (Gn.25:1-5).
Jessé tinha oito filhos, mas Davi era eleito de Jeová (1 Sm.16:1-13). A eleição de Davi, por parte de Jeová, transcorreu dentro de um critério severo de seleção. Quando Jessé colocou o seu primogênito diante do profeta Samuel dizendo: “Certamente está perante Jeová o seu ungido”(1 Sm.16:6), Jessé falou isso porque conhecia o caráter de seus filhos, e o mais velho tinha atributos para ser o eleito de Jeová. Samuel, porém, respondeu: “Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado, pois Jeová não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém Jeová olha para o coração” (1 Sm.16:1- 7).
Davi, o eleito de Jeová, cujo coração era como o de Jeová (1 Sm.16:13-14), cometeu pecados tão baixos, que talvez os outros irmãos não teriam cometido, quais sejam: infidelidade a Jeová, sedução de uma mulher casada, ocultação do crime, traição contra um dos melhores generais, autor do plano homicida que tirou a vida do amigo fiel e leal. Uma dedução podemos tirar do acontecido: duas pessoas que tem corações iguais são capazes das mesmas obras, e foi Jeová quem declarou que Davi tinha um coração conforme o dele, e executaria a sua vontade (At.13:22). “E, quando este foi retirado, lhes levantou como rei a Davi, ao qual também deu testemunho, e disse: Achei a Davi filho de Jessé, varão conforme o meu coração, que executará toda a minha vontade.”
Da mesma maneira que Jeová discriminou os filhos de Jessé, escolhendo Davi, Davi também discriminou seus filhos ao colocar Salomão como rei de Israel. Em Israel o direito de reinar cabia ao primogênito. Se este morresse, havia uma escala de sucessão por idade. Vamos dar essa escala a partir de Amnon, primogênito de Davi: Amnon, Daniel, Absalão, Adonias, Seffalas, Treão, Simeia, Sobabe, Natã, Salomão; este era o décimo no direito de sucessão. Por direito, o trono pertencia a Adonias, o quarto filho de Davi. Pois Davi, por um juramento feito a amante Batseba, despojou Adonias, que já estava reinando, e passou por cima de mais cinco filhos mais velhos que Salomão, que acabou injustamente como rei de Israel, e foi causador da divisão do reino. Davi escolheu mal, e Jeová também, pois foi quem elegeu Salomão (I Cr.3:1-5; 22:8-9). Jeová, elegendo Salomão, quebrou sua própria lei, e colocou como cabeça de Israel o maior idólatra e o mais carnal e lúbrico de todos. Ou Jeová não sabe o futuro, ou queria propositadamente dividir o reino para acabá-lo, pois Jesus declarou: “Todo reino dividido contra si mesmo é devastado, e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesmo não subsistirá” (Mt.12:25).
A eleição e a preferência anulam o direito e a justiça (1 Rs.1:15-17).
A eleição e a predestinação são a marca do Velho Testamento de Jeová. Abel foi eleito e Caim rejeitado. Jacó foi eleito no lugar de Esaú, primogênito de Isaque (Gn.25:19-23). José, eleito entre os doze filhos de Jacó (Gn.37:1-11). Efrain, eleito em lugar de Manassés (Gn.48:17-19). E assim por diante. Como ficam as coisas no Novo Testamento? Se a eleição ou predestinação pressupõem acepção e discriminação, pois não se pode dar prêmios desiguais a iguais, no Novo Testamento não pode haver nem eleição e nem predestinação. Vejamos :
1. A graça de Deus é total, isto é, para todos, e assim fica anulada a discriminação. “Porque a graça de Deus é manifestada trazendo salvação a todos os homens” (Tt.2:11). A eleição, ou a predestinação anulariam a graça.
2. Na dispensação da graça, os piores, que eram discriminados e rejeitados no Velho Testamento, são os usados por Deus, logo, a graça anula a eleição. “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para confundir as que são; para que nenhuma carne se glorie diante dele” (1 Co.1:27-29). Jeová, ao contrário, escolhia os melhores, os mais fortes, etc.
3. No Novo Testamento, a obra não é do homem, mas do Espírito Santo, e assim qualquer aleijado podia ser um gigante. Sabedoria, ciência, poder para curar, a profecia, dom de maravilhas, discernimento, etc., tudo vinha do Espírito Santo (1 Co.12:7-11). No Velho Testamento, o aleijado era proibido por Jeová de servir no templo (Lv.21:17-22).
4. E Jesus Cristo veio salvar os perdidos, não há eleição e discriminação. “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc.19:10).
5. Se é assim, porque no Novo Testamento existe eleição? “Porque muitos são chamados, mas poucos os escolhidos” (Mt.22:14). “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?” (Rm.8:33). Mas a graça é para todos. Como fica?
QUAL É A ELEIÇÃO DA GRAÇA? (Rm.11:5-7). Não pode haver predestinação onde não há eleição. Mas Paulo afirma que há eleição. “Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição vem de Deus” (1 Ts.1:4).
A eleição dos cristãos é diferente da eleição do Velho Testamento. Vejamos:
1. Os cristãos foram eleitos para serem santos e caridosos, e não para herdar o céu (Ef.1:4).
2. Foram eleitos para padecer por Cristo e não para gozar a vida (Fp.1:29).
3. Eleitos também para sofrer tribulações, e não buscar vida de nababos (At.14:22).
4. Escolhidos para carregar a cruz até a morte (Mt.10:38; 16:24).
5. Predestinados para mortificar as sensações da carne (Rm.8:13; II Co 4:10-11).
6. Selecionados para sofrer as aflições de Jesus Cristo (Cl.1:24).
7. Predestinados para ser o que Jesus foi (Rm.8:29; e Jo.2:6; 4:17).
“Revesti- vos pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade” (Cl.3:12).
A eleição de Jeová visava um reino terreno e a eleição de Cristo visa preparar o Cristão para entrar no reino de Deus. Todos escolhem a eleição de Jeová, e não a eleição de Jesus Cristo, pois a de Jesus é renunciar tudo neste mundo, e a de Jeová é buscar tudo o que puder. Os eleitos de Jeová obtiveram grande sucesso, mas os de Cristo foram todos perseguidos e mártires.
Autoria: Pastor Olavo S. Pereira