Em 2 Ts.1:7-8 lemos na Bíblia, que Jesus descerá do céu, com os anjos do seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus, e dos que não obedecem o Evangelho. A palavra “vingança” se acha em diversas traduções: Vulgata latina, tradução brasileira, João Ferreira de Almeida, Bíblia de Jerusalém, etc. A palavra vingança contraria Jo.3:17, onde lemos que Jesus não veio para condenar. Jesus veio para salvar os perdidos (1 Tm.1:15). A expressão VINGANÇA não se coaduna com o espírito de Cristo, sua natureza amorosa, sua mansidão e bondade.
No original grego, a palavra usada por Paulo é EKEDIKHSIS, cuja tradução é PUNIR, e não vingar. Por que tantas traduções usam a palavra vingança em lugar de punição? Porque creem que Jeová, o Deus das vinganças, é o pai de Jesus, ou o próprio Jesus. A lei do olho por olho e dente por dente, expressa o caráter vingativo de Jeová. Querem ligar Jesus a Jeová, ainda que no sermão da montanha Jesus se oponha ao caráter de Jeová (Mt.5:38-48) onde Jesus se declara contra a vingança de Jeová.
A palavra PUNIR condiz com a bondade de Cristo, pois foi constituído pelo Pai, Juiz dos vivos e dos mortos (At.10:42; 2 Tm.4:1). Punir os que não conhecem a Deus é justo, pois os que não o conhecem praticam o mal, mas tomar vingança revela ódio. Na tradução de Scofield lemos que Jesus virá para dar a retribuição, e na tradução francesa dos monges beneditinos, lemos que virá para fazer justiça. A melhor tradução para EKEDIKHSIS, é portanto, fazer justiça ou punir, mas nunca “tomar vingança”.
Quanto à expressão “Jesus descerá como labareda de fogo” (2 Ts.1:7), a linguagem é figurada. Em Mt.13:42 lemos: “Lançá-los-ão na fornalha de fogo”. Também é linguagem figurada. Deus não tem fornalha. Em Is.31:9 e 48:10, lemos que Jerusalém era uma fornalha. Labareda de fogo ou chama de fogo, é uma linguagem apropriada para o fim deste mundo (2 Pd.3:7).
Esta explicação se faz necessária porque Jeová é o Deus do fogo. Jeová mandou fogo do céu para destruir Sodoma e Gomorra. E foi fogo real, não figurado (Gn.19:24). O fogo do céu era o sinal do poder e da glória de Jeová. O rei Acabe ajuntou quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal e quatrocentos profetas de Assera para um confronto com o profeta Elias. Este lhes disse: Façam um altar para Baal e coloquem um bezerro sobre ele, cortado em pedaços. Eu tomarei outro bezerro e o colocarei em outro altar. Vocês invoquem a Baal, que eu invocarei a Jeová. O deus que responder por fogo, esse é o deus verdadeiro. Depois que os profetas de Baal cansaram de invocar o seu deus inutilmente, Elias invocou a Jeová, e caiu fogo do céu e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e a água (I Rs.18:19-39). O fogo é uma das formas que Jeová usa para matar. Os filhos do Sumo Sacerdote Arão, Nadabe e Abiú, puseram fogo estranho em seus incensários, e trouxeram perante Jeová. Desceu, então, fogo do céu, e os consumiu, e morreram perante Jeová (Lv.10:1-2). Em outra ocasião, Acazias, filho de Acabe, caiu pelas grades de um quarto alto, e se feriu gravemente. Mandou então consultar Baal-Zebube, deus de Ecrom, sobre sua sorte. Jeová, ofendido, ordenou a Elias que fosse ao encontro dos mensageiros de Acazias com o seguinte recado: “Não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? Por isso, assim diz Jeová: Da cama, a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás”. E Elias se foi. Acazias, por sua vez, ofendido com Jeová, enviou cinqüenta soldados e um capitão para buscar Elias. O capitão disse: Homem de Deus. O rei diz: Desce. Elias respondeu: “Se eu sou homem de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a ti e a teus cinqüenta. Então, fogo desceu do céu e os consumiu”. O rei tornou a enviar outro capitão, com mais cinqüenta homens. Disse o capitão: “Homem de Deus, assim diz o rei: Desce depressa. Elias respondeu: Se eu sou homem de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a ti e a teus cinqüenta. E fogo desceu do céu e os consumiu”. Pobres capitães e pobres soldados. Se não obedecessem ao rei seriam mortos por rebelião, e obedecendo ao rei foram mortos por Jeová. Qual foi a culpa deles para morrer? Quantas viúvas e quantos órfãos ficaram na rua! Quanta desgraça! (2 Rs.1:1-12).
Jesus, próximo aos dias para a sua assunção, resolveu ir a Jerusalém, “e mandou mensageiros diante da sua face; indo eles, chegaram a uma aldeia de samaritanos para preparar pousada”. Os samaritanos se negaram a hospedar Jesus. João e Tiago disseram ao Mestre: “Queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma?” Jesus disse: “Vós não sabeis de que espírito sois, porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salva-las” (Lc.9:51-56).
Como dissemos, Jeová é o Deus do fogo que destrói e mata ou abrasa. “Adiante dele vai um fogo que abrasa os seus inimigos ao redor” (Sl.97:2). “Por causa da ira de Jeová dos exércitos a terra se escurecerá, e será o povo como pasto do fogo; ninguém poupará a seu irmão” (Is.9:19). É o fogo da ira de Jeová (Jr.15:14). “Adiante de Jeová vai a peste, e raios de fogo sob seus pés” (Hc.3:5). A sede de consumir tudo pelo fogo é próprio de Jeová. “Eis que Jeová clamava que queria contender por meio do fogo; e consumiu o grande abismo, e também queria consumir a terra” (Am.7:4). Então o profeta Amós repreendeu Jeová dizendo: “Cessa agora”. E Jeová se arrependeu (Am.7:5-6). Este é o fogo consumidor que é Jeová (Dt.4:24).
No Novo Testamento, o fogo de Jesus é o fogo do Espírito Santo. Os batizados com Espírito Santo são enchidos com o fogo do amor pelas almas perdidas (Mt.3:11). No pentecostes, o fogo do amor de Cristo apareceu sobre as cabeças de 120 discípulos, que começaram a pregar e a testemunhar de Jesus, de tal modo, que se converteram quase três mil almas (At.2:1-41). Este é o fogo que Jesus veio lançar na terra (Lc.12:49).
O apocalipse fala, no Novo Testamento de um fogo do céu. É o fogo da besta para enganar os homens (Ap.13:11-14). O fogo que não engana a ninguém e não destrói as almas dos homens, e também desceu do céu, é o fogo da misericórdia, da compaixão do Pai, revelado em Cristo na cruz para salvar todos os homens (Tt.2:11; 1 Tm.4:10).
Autoria: Pastor Olavo S. Pereira